São Paulo, sexta, 3 de julho de 1998

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VIOLÊNCIA
Relatório de 97 da Ouvidoria da Polícia mostra que o comportamento do policial é maior preocupação
Abuso de autoridade é mais denunciado

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

O relatório anual de 97 da Ouvidoria da Polícia de São Paulo, que será divulgado hoje de manhã pelo governador Mário Covas, faz três constatações:
1) A população deixou de se importar tanto com problemas estruturais da polícia para se preocupar mais com os eventuais comportamentos violentos ou corruptos de policiais;
2) Pesam contra a Polícia Militar, com mais frequência, as denúncias de violência, enquanto contra a Polícia Civil, os casos de corrupção;
3) Por fim, que o perfil do denunciante é o trabalhador pobre que vive na periferia da cidade.
No relatório de 1996, o combate aos pontos de drogas e a falta de policiamento foram as duas principais reclamações das pessoas que procuraram a ouvidoria. O abuso de autoridade -que reflete o mau comportamento do policial- apareceu em terceiro lugar, representando 11,2% das denúncias (veja quadro ao lado).
No ano passado, o abuso de autoridade passou a ser a principal denúncia na ouvidoria -599 casos (15,8%).
"A preocupação específica com o comportamento do policial ocorreu, principalmente, depois do episódio da favela Naval", disse o ouvidor Benedito Domingos Mariano, referindo-se às cenas de PMs espancando e atirando contra um homem durante uma blitz.
O caso favela Naval foi divulgado pela TV no dia 31 de março. No primeiro trimestre, a ouvidoria havia recebido 89 denúncias de abuso de autoridade. No trimestre seguinte a esse episódio de repercussão, as denúncias contra abuso de autoridade saltaram para 202.
"A população ficou mais atenta à violência policial. Em 96, a preocupação era com a falta de polícia. Atualmente, é com o comportamento da polícia", disse Mariano.
Ele diz ter constatado também que a "PM é mais violenta e a Polícia Civil, mais corrupta".
A PM é acusada de cometer mais abuso de autoridade (372 casos de um total de 599 envolvendo as duas polícias) e mais homicídios (83 de um total de 101).
Já a Polícia Civil recebeu mais denúncias de corrupção (60 de 74) e de extorsão (148 de 206).
Por último, uma pesquisa da ouvidoria mostrou que o cidadão que procura pessoalmente o órgão para fazer alguma reclamação contra a polícia é branco (76%), casado (42%), empregado (87%), tem o segundo grau (77%) e mora na periferia da cidade (65%).
"Durante muito tempo se dizia que quem sofria violência policial era o marginal. Constatamos que é o trabalhador pobre", afirmou Mariano.
No ano passado, 3.748 denúncias foram encaminhadas para as corregedorias das polícias.



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