São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS

Lula agora diz que não sabia do caos aéreo

Presidente comparou a situação com a de um paciente que, sem saber da gravidade de sua doença, descobre estar com metástase

Declarações foram feitas em reunião com ministros e líderes partidários; para presidente, Ministério da Defesa só existia no papel

PEDRO DIAS LEITE
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dezesseis dias após o acidente com o avião da TAM, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em reunião com ministros e líderes partidários, que estava mal informado sobre a extensão e a gravidade da crise aérea que assola o Brasil há mais de dez meses.
"É como um paciente que não soubesse a gravidade da doença e aí, quando vê, está com metástase no corpo todo", disse Lula, segundo os relatos de participantes.
A comparação do caos aéreo à fase terminal de um câncer é a primeira admissão de Lula, ainda que distante dos microfones, de que o governo não tinha noção do tamanho do problema. Foi somente na posse do novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, na semana passada, que Lula usou pela primeira vez a palavra "crise" para o caso.
Antes, sempre fazia um diagnóstico menos severo, em que atribuía os problemas a uma conjunção de fatores: quebra da Varig, rebelião dos controladores de vôo e acidente da Gol. Em março, chegou a cobrar "prazo, dia e hora" para o fim dos problemas nos aeroportos.
Ontem, na reunião, reconheceu que o setor aéreo sofreu um problema de gestão "sério" e comparou: "Cachorro com muito dono morre de fome porque ninguém cuida", disse, segundo relato de presentes.

Ministério de papel
O presidente levou dez meses para tirar do cargo o ministro Waldir Pires (Defesa), que o próprio Palácio do Planalto, como apurou a Folha, considerava aquém da tarefa de arrumar a bagunça aérea. Quis esperar que a crise amainasse, o que não ocorreu. Só tirou Pires após o acidente da TAM, quando morreram 199 pessoas -o da Gol, em setembro de 2006, já vitimara 154 pessoas.
Na última entrevista coletiva que concedeu, em maio, chamou o caos de "problemão" e declarou: "Não vamos confundir o acidente do avião da Gol com o Legacy com um problema dos aeroportos, até porque eles se chocaram no ar".
O governo faz o que pode para não assumir sozinho a culpa pelo caos. Ontem, Lula voltou a atribuir boa parte do problema às gestões anteriores, pela falta de planejamento e investimentos. E isentou Pires, ao dizer que, da maneira como o ministério foi concebido, ele tinha pouca "mobilidade".
Na reunião, Lula afirmou que Jobim foi designado para "criar" o Ministério da Defesa, que até hoje "não existia". Segundo ele, só existia "no papel".
Jobim assumiu com a clara intenção de dar uma sensação de que a pasta agora tem pulso firme. Disse que tem "carta branca" e, diante de um constrangido Pires na transmissão do cargo, afirmou: "Aja ou saia. Faça ou vá embora".


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