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TRAGÉDIA EM CONGONHAS
Lula agora diz que não sabia do caos aéreo
Presidente comparou a situação com a de um paciente que, sem saber da gravidade de sua doença, descobre estar com metástase
Declarações foram feitas em reunião com ministros e líderes partidários; para presidente, Ministério da Defesa só existia no papel
PEDRO DIAS LEITE
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dezesseis dias após o acidente com o avião da TAM, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
afirmou ontem, em reunião
com ministros e líderes partidários, que estava mal informado sobre a extensão e a gravidade da crise aérea que assola o
Brasil há mais de dez meses.
"É como um paciente que
não soubesse a gravidade da
doença e aí, quando vê, está
com metástase no corpo todo",
disse Lula, segundo os relatos
de participantes.
A comparação do caos aéreo
à fase terminal de um câncer é a
primeira admissão de Lula, ainda que distante dos microfones,
de que o governo não tinha noção do tamanho do problema.
Foi somente na posse do novo
ministro da Defesa, Nelson Jobim, na semana passada, que
Lula usou pela primeira vez a
palavra "crise" para o caso.
Antes, sempre fazia um diagnóstico menos severo, em que
atribuía os problemas a uma
conjunção de fatores: quebra
da Varig, rebelião dos controladores de vôo e acidente da Gol.
Em março, chegou a cobrar
"prazo, dia e hora" para o fim
dos problemas nos aeroportos.
Ontem, na reunião, reconheceu que o setor aéreo sofreu um
problema de gestão "sério" e
comparou: "Cachorro com
muito dono morre de fome porque ninguém cuida", disse, segundo relato de presentes.
Ministério de papel
O presidente levou dez meses para tirar do cargo o ministro Waldir Pires (Defesa), que o
próprio Palácio do Planalto, como apurou a Folha, considerava aquém da tarefa de arrumar
a bagunça aérea. Quis esperar
que a crise amainasse, o que
não ocorreu. Só tirou Pires
após o acidente da TAM, quando morreram 199 pessoas -o
da Gol, em setembro de 2006,
já vitimara 154 pessoas.
Na última entrevista coletiva
que concedeu, em maio, chamou o caos de "problemão" e
declarou: "Não vamos confundir o acidente do avião da Gol
com o Legacy com um problema dos aeroportos, até porque
eles se chocaram no ar".
O governo faz o que pode para não assumir sozinho a culpa
pelo caos. Ontem, Lula voltou a
atribuir boa parte do problema
às gestões anteriores, pela falta
de planejamento e investimentos. E isentou Pires, ao dizer
que, da maneira como o ministério foi concebido, ele tinha
pouca "mobilidade".
Na reunião, Lula afirmou
que Jobim foi designado para
"criar" o Ministério da Defesa,
que até hoje "não existia". Segundo ele, só existia "no papel".
Jobim assumiu com a clara
intenção de dar uma sensação
de que a pasta agora tem pulso
firme. Disse que tem "carta
branca" e, diante de um constrangido Pires na transmissão
do cargo, afirmou: "Aja ou saia.
Faça ou vá embora".
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