São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2007

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"Não agüento mais", diz viúva de co-piloto

DÉBORA BERGAMASCO
DA FOLHA ONLINE

"Quero somente informações oficiais. Não agüento mais a maneira desumana como estão tratando esta questão. A única coisa que eu sei é do profissionalismo do meu marido." O desabafo emocionado é de Maria Helena, viúva de Henrique Stephanini Di Sacco, co-piloto do vôo JJ 3054.
Dezessete dias após a tragédia que matou 199 pessoas, Maria Helena diz estar cansada de tantas versões sobre o acidente e também não se conformar com a maneira como o país está tratando o assunto.
"A corrupção é tão grande que vão colocar a culpa no piloto, na empresa... mas eu acho que o acidente aconteceu por uma série de fatores. Só que é mais fácil culpar quem não está mais aqui para se defender", afirma ela.
Enquanto autoridades e empresas apresentam dados sobre o acidente, Maria Helena diz que sua família tenta se poupar. "Fui aconselhada pelos meus filhos e não estou acompanhando mais nada do que a imprensa divulga. As pessoas dizem muita coisa, então, a partir de agora, só quero saber de informações oficiais."
Além da dor do luto, ela também sofre com o assédio. "Não consigo trabalhar, não consigo me concentrar, me ligam de números confidenciais no meu celular perguntando se vou processar a TAM. Não agüento mais, estou cansada."

Piloto
Maria Guedes Lima, 78, mãe do piloto Kleyber Aguiar Lima, diferentemente de Maria Helena, tem acompanhado todo o noticiário sobre o acidente. Chora e se revolta ao ver que o filho é apontado como culpado, sem chance de defesa.
"[Ela] Ainda não está em condições de falar sobre o assunto", diz um dos netos Sheldon Lima, e também sobrinho de Kleyber.
Para a família, afirmou ele, os pilotos estão sendo injustiçados por "forças muito maiores". "Acho que as acusações são feitas porque há três grandes forças envolvidas que querem se livrar da culpa: o governo, a TAM e a Airbus", argumenta.
A família duvida que tenha ocorrido falha humana. "É uma injustiça, estamos perplexos. Não podemos acreditar que, com 27 anos como piloto, pudesse cometer um erro tão simplório como este, de esquecer de puxar o manete. É quase impossível", diz o sobrinho.
Sheldon afirma que toda a família de Kleyber sabia da verdadeira paixão que ele tinha pela TAM. Diz ainda que a família gostaria de compreender o motivo pelo qual a empresa procura não se manifestar em favor dos funcionários. "Acho que eles não querem defender os pilotos para não se complicar."
Dados da caixa-preta apontam que houve falha no momento do pouso, no último dia 17. Os dados mostram que um dos manetes (que acelera ou reduz a velocidade) estava em posição errada. Daí, a conclusão inicial de falha humana. A leitura dos diálogos, porém, não é conclusiva para pilotos, que alegam falha mecânica.


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