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"Não agüento mais", diz viúva de co-piloto
DÉBORA BERGAMASCO
DA FOLHA ONLINE
"Quero somente informações oficiais. Não agüento mais
a maneira desumana como estão tratando esta questão. A
única coisa que eu sei é do profissionalismo do meu marido."
O desabafo emocionado é de
Maria Helena, viúva de Henrique Stephanini Di Sacco, co-piloto do vôo JJ 3054.
Dezessete dias após a tragédia que matou 199 pessoas, Maria Helena diz estar cansada de
tantas versões sobre o acidente
e também não se conformar
com a maneira como o país está
tratando o assunto.
"A corrupção é tão grande
que vão colocar a culpa no piloto, na empresa... mas eu acho
que o acidente aconteceu por
uma série de fatores. Só que é
mais fácil culpar quem não está
mais aqui para se defender",
afirma ela.
Enquanto autoridades e empresas apresentam dados sobre
o acidente, Maria Helena diz
que sua família tenta se poupar.
"Fui aconselhada pelos meus
filhos e não estou acompanhando mais nada do que a imprensa divulga. As pessoas dizem muita coisa, então, a partir
de agora, só quero saber de informações oficiais."
Além da dor do luto, ela também sofre com o assédio. "Não
consigo trabalhar, não consigo
me concentrar, me ligam de
números confidenciais no meu
celular perguntando se vou
processar a TAM. Não agüento
mais, estou cansada."
Piloto
Maria Guedes Lima, 78, mãe
do piloto Kleyber Aguiar Lima,
diferentemente de Maria Helena, tem acompanhado todo o
noticiário sobre o acidente.
Chora e se revolta ao ver que o
filho é apontado como culpado,
sem chance de defesa.
"[Ela] Ainda não está em
condições de falar sobre o assunto", diz um dos netos Sheldon Lima, e também sobrinho
de Kleyber.
Para a família, afirmou ele, os
pilotos estão sendo injustiçados por "forças muito maiores".
"Acho que as acusações são feitas porque há três grandes forças envolvidas que querem se
livrar da culpa: o governo, a
TAM e a Airbus", argumenta.
A família duvida que tenha
ocorrido falha humana. "É uma
injustiça, estamos perplexos.
Não podemos acreditar que,
com 27 anos como piloto, pudesse cometer um erro tão simplório como este, de esquecer
de puxar o manete. É quase impossível", diz o sobrinho.
Sheldon afirma que toda a família de Kleyber sabia da verdadeira paixão que ele tinha pela TAM. Diz ainda que a família
gostaria de compreender o motivo pelo qual a empresa procura não se manifestar em favor
dos funcionários. "Acho que
eles não querem defender os
pilotos para não se complicar."
Dados da caixa-preta apontam que houve falha no momento do pouso, no último dia
17. Os dados mostram que um
dos manetes (que acelera ou reduz a velocidade) estava em posição errada. Daí, a conclusão
inicial de falha humana. A leitura dos diálogos, porém, não é
conclusiva para pilotos, que
alegam falha mecânica.
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