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MARILENE FELINTO
Embrutecer ou o preço do gás e da violência
Além de tudo é preciso superar os observadores policialescos, a caquexia dos "observatórios", a pose dos ombudsmans, esses atravessadores da imprensa, que de críticos mesmo não têm nada, que só fazem reproduzir a opinião das elites, dos
donos da imprensa e dos donos do país, servil e promiscuamente.
Já não bastasse a censura de fato, por que se passa nesta nação
de Terceiro Mundo, ainda vêm
essas gralhas arremedar opiniões,
mastigar "análises" sobre isenção
e "apartidarismo", todos cinicamente a serviço do "establishment", como se diz, do candidato
do governo à eleição presidencial.
Gente enfadonha, sem voz própria, sem originalidade nenhuma. Por que não censuram esses
papagaios, essas araras enjauladas? Porque eles são maquiadores
profissionais da verdade, enchem
de ruge, pó-de-arroz e perfume
falsificado as páginas engelhadas
do jornal, a tela baça da TV, tudo
em nome dos "leitores" ou "telespectadores". Leitor que se preze
não precisa de atravessador.
O "establishment" (sinônimo de
"elite dominante" ou "grupos privilegiados") quer continuar no
poder a qualquer custo. Eles arrasaram o país nesses oito anos de
governo FHC e suas alianças com
o pior das oligarquias nacionais.
Nunca se forjou tanto assassino,
tanto sequestrador, tanto ladrão
grande e pequeno. O povo embruteceu nesses oito anos, por conta
de muita violência material e moral: a violência física do assalto,
do crime, da falta de atendimento
médico; e a violência moral do
medo, do empobrecimento, da extorsão dos impostos, da dívida
impagável.
A dona-de-casa está estarrecida
com o preço do gás, "que custava
R$ 7 quando começou o Plano
Real, e agora custa R$ 30, que eu
paguei na semana passada!", ela
quase gritou, explicando. Admirei a memória contábil. Como ela
tinha guardado aquele valor do
início do Plano Real? E o tal tabelamento? Não ia haver um tabelamento do preço do gás? Conversa mole do governo, para ganhar
eleitor para o candidato oficial,
José Serra. A dona-de-casa contou que "não tem essa de tabelamento para o dono do armazém".
Disse que o homem "só vendia se
fosse por R$ 30, que ninguém vende a R$ 26 em lugar nenhum!".
E era essa sua indignação solitária. Ora, o governo FHC custou
caro às pessoas pobres. O governo
dos ricos para os ricos nunca se
importou, de fato, com o preço do
gás, da luz, da gasolina ou da tarifa de telefone. Nem eu consigo
pagar mais a conta do celular:
mandei tirar tudo quanto é tipo
de serviço, de identificador de
chamada a não-sei-que-browser
feito para extorquir dinheiro do
assinante. Só uso celular em
emergências. Mesmo assim, o valor da conta nunca diminui.
O governo dos ricos para os ricos transformou tudo em "economia". Ora, que droga é essa? A
economia é apenas uma das esferas da cultura, diz o livro, e, portanto, um domínio parcial da vida social humana. Seu sentido filosófico não deveria ser ganância por dinheiro ("acumulação de maior valia", como se fala na linguagem dos especialistas), mas sim a preparação de bens e a prestação de serviços valiosos em prol da comunidade.
Em comparação com outros domínios da cultura (arte, ciência,
religião), a economia é, sem dúvida, o mais inferior em valor e dignidade. Mas no governo dos ricos para os ricos, no modelo capitalista neoliberal, a economia se desembaraça dos laços sociais e, prolongando sua influência, desarticula e desagrega a ordem social: só serve para embrutecer as pessoas, da dona-de-casa ao assassino, ao ladrão. Foi só para isso que serviram esses oito anos de
governo FHC.
E-mail - mfelinto@uol.com.br
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