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Para especialistas, propostas de candidatos a prefeito são incompletas
DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Incompletas. É esse o veredicto
dado por especialistas às propostas dos quatro principais candidatos à Prefeitura de São Paulo para
equacionar a situação dos moradores de rua da capital paulista.
Marta Suplicy (PT), José Serra
(PSDB), Paulo Maluf (PP) e Luiza
Erundina (PSB) apostam em
idéias como a criação de hotéis
populares, Disque-Proteção Social, casas-abrigo, Programa Saúde da Família para moradores de
rua, albergues menores.
Para comentar as propostas, a
Folha ouviu o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua;
o professor Rubens de Camargo
Ferreira Adorno, da Faculdade de
Saúde Pública da USP e que participa de pesquisa sobre moradores
de rua em São Paulo, Los Angeles,
Tóquio e Paris; a irmã Maria Regina Emanoel, coordenadora-geral
da OAF (Organização de Auxílio
Fraterno), entidade que integra o
Fórum Nacional de Estudos sobre
População de Rua; e Camila Georgetti, que recentemente defendeu
tese de doutorado na PUC-SP sobre o tema moradores de rua.
Marta
Marta Suplicy (PT), afirma que
vai manter o sistema de acolhida
24 horas nas ruas e a Central de
Atendimento Permanente (CAP).
Pretende também qualificar a
rede de 27 albergues e nove abrigos de cuidados especiais, 90 moradias provisórias, vagas em locação social e oficinas de trabalho e
cooperativas. Promete tornar os
albergues menores para acelerar o
processo de inclusão social e ampliar serviços na Oficina Boracéa,
na Barra Funda (zona oeste).
A redução do tamanho dos albergues é elogiada por todos. "É
uma reivindicação antiga", diz o
padre Júlio Lancellotti. Albergues
maiores dificultam a realização de
um trabalho que leve em conta as
especificidades da população de
rua, afirma Camila Georgetti.
Para a irmã Maria Regina, é inviável ampliar os serviços da Oficina Boracéa -que recebe moradores de rua com cachorros e carroças, tem posto de emissão de
documentos, posto bancário e
central de internet, entre outros.
Serra
O candidato José Serra (PSDB)
propõe um serviço Disque-Proteção Social 24 Horas, para o qual o
cidadão poderá ligar, solicitando
abordagem à pessoa em situação
de rua. A proposta inclui medidas
de desestímulo às esmolas. O tucano afirma também que vai criar
um Programa Saúde da Família
(PSF) para a população de rua.
Tanto o serviço telefônico como
o do PSF já existem, dizem os especialistas, mas podem ser melhorados. No caso do Disque-Proteção Social, Adorno e Georgetti
alertam ainda para o risco de ele
se tornar um mero mecanismo de
remoção de população da rua.
Um serviço desse tipo deve encaminhar o morador para equipamentos existentes, onde ele deverá ser acompanhado e orientado por uma equipe que irá tentar
tirá-lo de vez da rua, dizem.
Maluf
O candidato Paulo Maluf (PP)
promete criar hotéis com diárias a
R$ 2, como os que existem no Rio,
e gerar 150 mil empregos por
meio de obras públicas. Afirma
ainda que pretende aumentar o
policiamento ostensivo no centro
e o número de albergues.
Rubens Adorno diz que a falta
de emprego não é necessariamente o que leva a pessoa para a rua.
"Muitos estão de alguma forma
inseridos no mercado de trabalho. Não podem é pagar por uma
casa", diz. Em relação aos hotéis
populares, eles seriam só uma saída temporária, não dão conta da
demanda, e os moradores de rua
podem não ter os R$ 2 para a diária, afirmam os especialistas.
Já a irmã Maria Regina repudia
com veemência a criação de novos albergues. "Já são 7.000 albergados em São Paulo. Isso é um
confinamento perpétuo", afirma.
Erundina
Luiza Erundina (PSB) quer implementar casas-abrigo, nos moldes das que recebem mulheres
que sofrem violência doméstica.
Propõe ainda organizar uma
ação conjunta com a sociedade
para tirar o cidadão da rua e o
reencaminhar ao mercado de trabalho. Diz que em um ano vai tirar todas as pessoas das ruas e resgatar o papel do educador de rua.
A idéia dos educadores é elogiada por quase todos os ouvidos. Isso porque eles vão ao encontro
dos que escapam da rede de serviços. "O educador de rua é importante para acompanhar e fazer
abordagens", defende Lancellotti.
As casas-abrigo e as parcerias
também são vistas com bons
olhos, mas a meta de zerar a população de rua é considerada inviável. "Nem cidades ricas e com
modelos de assistência mais bem
acabados, como Paris, conseguiram", diz Rubens Adorno.
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