São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2004

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Para especialistas, propostas de candidatos a prefeito são incompletas

DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Incompletas. É esse o veredicto dado por especialistas às propostas dos quatro principais candidatos à Prefeitura de São Paulo para equacionar a situação dos moradores de rua da capital paulista.
Marta Suplicy (PT), José Serra (PSDB), Paulo Maluf (PP) e Luiza Erundina (PSB) apostam em idéias como a criação de hotéis populares, Disque-Proteção Social, casas-abrigo, Programa Saúde da Família para moradores de rua, albergues menores.
Para comentar as propostas, a Folha ouviu o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua; o professor Rubens de Camargo Ferreira Adorno, da Faculdade de Saúde Pública da USP e que participa de pesquisa sobre moradores de rua em São Paulo, Los Angeles, Tóquio e Paris; a irmã Maria Regina Emanoel, coordenadora-geral da OAF (Organização de Auxílio Fraterno), entidade que integra o Fórum Nacional de Estudos sobre População de Rua; e Camila Georgetti, que recentemente defendeu tese de doutorado na PUC-SP sobre o tema moradores de rua.

Marta
Marta Suplicy (PT), afirma que vai manter o sistema de acolhida 24 horas nas ruas e a Central de Atendimento Permanente (CAP).
Pretende também qualificar a rede de 27 albergues e nove abrigos de cuidados especiais, 90 moradias provisórias, vagas em locação social e oficinas de trabalho e cooperativas. Promete tornar os albergues menores para acelerar o processo de inclusão social e ampliar serviços na Oficina Boracéa, na Barra Funda (zona oeste).
A redução do tamanho dos albergues é elogiada por todos. "É uma reivindicação antiga", diz o padre Júlio Lancellotti. Albergues maiores dificultam a realização de um trabalho que leve em conta as especificidades da população de rua, afirma Camila Georgetti.
Para a irmã Maria Regina, é inviável ampliar os serviços da Oficina Boracéa -que recebe moradores de rua com cachorros e carroças, tem posto de emissão de documentos, posto bancário e central de internet, entre outros.

Serra
O candidato José Serra (PSDB) propõe um serviço Disque-Proteção Social 24 Horas, para o qual o cidadão poderá ligar, solicitando abordagem à pessoa em situação de rua. A proposta inclui medidas de desestímulo às esmolas. O tucano afirma também que vai criar um Programa Saúde da Família (PSF) para a população de rua.
Tanto o serviço telefônico como o do PSF já existem, dizem os especialistas, mas podem ser melhorados. No caso do Disque-Proteção Social, Adorno e Georgetti alertam ainda para o risco de ele se tornar um mero mecanismo de remoção de população da rua.
Um serviço desse tipo deve encaminhar o morador para equipamentos existentes, onde ele deverá ser acompanhado e orientado por uma equipe que irá tentar tirá-lo de vez da rua, dizem.

Maluf
O candidato Paulo Maluf (PP) promete criar hotéis com diárias a R$ 2, como os que existem no Rio, e gerar 150 mil empregos por meio de obras públicas. Afirma ainda que pretende aumentar o policiamento ostensivo no centro e o número de albergues.
Rubens Adorno diz que a falta de emprego não é necessariamente o que leva a pessoa para a rua. "Muitos estão de alguma forma inseridos no mercado de trabalho. Não podem é pagar por uma casa", diz. Em relação aos hotéis populares, eles seriam só uma saída temporária, não dão conta da demanda, e os moradores de rua podem não ter os R$ 2 para a diária, afirmam os especialistas.
Já a irmã Maria Regina repudia com veemência a criação de novos albergues. "Já são 7.000 albergados em São Paulo. Isso é um confinamento perpétuo", afirma.

Erundina
Luiza Erundina (PSB) quer implementar casas-abrigo, nos moldes das que recebem mulheres que sofrem violência doméstica.
Propõe ainda organizar uma ação conjunta com a sociedade para tirar o cidadão da rua e o reencaminhar ao mercado de trabalho. Diz que em um ano vai tirar todas as pessoas das ruas e resgatar o papel do educador de rua.
A idéia dos educadores é elogiada por quase todos os ouvidos. Isso porque eles vão ao encontro dos que escapam da rede de serviços. "O educador de rua é importante para acompanhar e fazer abordagens", defende Lancellotti.
As casas-abrigo e as parcerias também são vistas com bons olhos, mas a meta de zerar a população de rua é considerada inviável. "Nem cidades ricas e com modelos de assistência mais bem acabados, como Paris, conseguiram", diz Rubens Adorno.


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