|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BARBARA GANCIA
Mendigo, morador de rua ou pessoa em abandono?
Justiça seja feita. A idéia
do jogo entre Brasil e Haiti
não partiu de algum Duda Mendonça das Relações Exteriores.
Partiu do primeiro-ministro haitiano, Gérard Latortue.
O projeto pode até ter sido abraçado com uma dose de oportunismo pelo governo tapuia, mas o
êxito da operação, há de se admitir, parece ter sido dos mais doces.
A ida da seleção ao Haiti foi tratada por alguns céticos como uma
mera exibição circense. Pois eu
digo que, se nossa vocação para
trazer algum alento às vítimas de
conflitos que se arrastam há anos
reside na realização de joguinhos
bocós de bola, que seja. Mesmo
que o único ganho consista, em
termos de imagem, em ver o talento brazuca se fixar nas mentes
dos mais jovens.
Veja só: na semana passada, o
canal pago de televisão GNT exibiu um documentário tocante,
"Promessas de um Novo Mundo",
sobre o cotidiano de crianças palestinas e israelenses.
Um dos meninos mostrados no
filme, o palestino Faraj, 13, demonstra grande resistência a
aceitar a sugestão do diretor do
documentário, B.Z. Goldberg,
de se encontrar com judeus da
sua idade.
A barreira finalmente é rompida e Faraj concorda em falar ao
telefone com o israelense Yarko,
12. Os dois começam a conversa
pisando em ovos e só vão encontrar algo em comum quando Faraj pergunta para quem Yarko
torceu na final da Copa de 1998.
"Para o Brasil", diz o menino judeu. Faraj abre um largo sorriso.
Os céticos que consideram ter sido dinheiro jogado no mar das
Antilhas o investimento de levar
a seleção ao Haiti vão dizer que é
bobagem. Mas já pensou que bacana ver Faraj e Yarko, na mesma arquibancada, torcendo pela
seleção brasileira?
Eu já andava meio encafifada
com o uso do termo politicamente
correto "morador de rua" para
designar mendigo quando recebi
um e-mail do senhor José Vieira
Rocha Jr. dizendo o seguinte: "A
locução é contraditória em termos. É rua ou é moradia. Morar
implica fixar-se. Rua, por definição, é caminho, é via de passagem. Ademais, rua é coisa pública, jamais disponível a ser apoderada pelo particular".
Ele diz ainda: "O uso impensado do vernáculo escancara nossa
acomodação diante do fenômeno. Fugimos à reflexão e fingimos
compreensão quando mascaramos a realidade". O senhor Vieira
sugere que, em vez do pejorativo
"mendigo" ou do equivocado
"morador de rua", se passe a usar
"pessoa em abandono".
QUALQUER NOTA
Porção canina
A melhor tirada sobre John
Kerry partiu do comediante
norte-americano Dana Carvey.
Em entrevista a David Letterman, ele disse que o candidato
do Partido Democrata é "29%
basset hound".
Verborragia
Tapuia precisa mesmo de auto-estima. Sem ela, como engoliria
um presidente que usa os ditos
de Zeca Pagodinho como se estivesse citando Shakespeare?
De luva
Quer apostar um picolé de limão como o maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima já deve
estar na mira da campanha
"brasileiro não desiste nunca"?
E-mail - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia
Texto Anterior: Para especialistas, propostas de candidatos a prefeito são incompletas Próximo Texto: Qualidade das praias: Litoral de São Paulo continua com quatro praias poluídas Índice
|