São Paulo, terça-feira, 03 de outubro de 2000

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DROGA
Polícia é mais eficiente no combate a tráfico de maconha; quantidade achada até agosto (83 t) é superior à de todo o ano passado
Apreensão de cocaína pela PF cai 43%

Almeida Rocha/Folha Imagem
Crack e cocaína apreendidas pela Polícia Federal entre as cidades de São Paulo e Piracicaba (SP), a droga teria vindo da Bolívia


MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

A apreensão de cocaína pela Polícia Federal neste ano caiu 43% até agora, em comparação com 1999. A queda ocorre no momento em que o governo brasileiro teme o recrudescimento no país das ações do narcotráfico da Colômbia, maior produtor mundial de cocaína.
De acordo com estatística da DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes) da PF, a corporação foi responsável pela apreensão de 2,4 toneladas de cocaína até o dia 23 de agosto. Considerando o mesmo ritmo, a projeção para o ano é de 3,7 toneladas.
No ano passado, a PF tomou 6,9 toneladas de traficantes. Em 1998, 5,8 toneladas. Em 1997, 4,0 toneladas. O resultado projetado para 2000 se assemelha ao de 1996 (3,5 toneladas). É inferior aos de 1993, 1994 e 1995.
Há três hipóteses fundamentais para a queda:
1) diminuiu o papel do Brasil como grande consumidor de cocaína ou corredor da droga que segue para os EUA e a Europa;
2) baixou a eficiência policial;
3) nenhum dos dois: a apreensão de drogas é cíclica, obedecendo a prioridades da polícia brasileira e das agências antidrogas que colaboram com ela, especialmente a dos Estados Unidos.
Ao contrário do que ocorre nos EUA, inexiste indício de queda de consumo de cocaína no Brasil. Estudos apontam o país como segundo maior mercado mundial, atrás do norte-americano.
O relatório do ano 2000 do Departamento de Estado sobre combate ao narcotráfico reafirmou o papel do Brasil como maior entreposto da cocaína que chega aos EUA. É também a grande rota da droga que vai para a Europa.
Somente com a estatística da PF, é impossível afirmar que o desempenho da polícia caiu.
O levantamento sobre apreensão de maconha sugere que essa pode ter sido a prioridade. Até 23 de agosto, a PF apreendeu 83,3 toneladas, projetando 128,7 toneladas até dezembro (101% a mais que em 1999).
No ano passado inteiro, a apreensão alcançou 64,1 toneladas, até então o maior resultado de todos os tempos. O salto de 2000 se deve a um bem-sucedido trabalho de inteligência, com infiltrações nas quadrilhas.
Nas maiores operações, a polícia divulga que um ou dois traficantes conseguiram fugir. Muitas vezes, a informação é para despistar: na verdade, os fujões eram informantes infiltrados.
Assim, houve recordes de flagrantes neste ano: 18 toneladas em agosto, 11 toneladas em setembro e 8 toneladas em junho, todas em Mato Grosso do Sul. Na Baixada Fluminense, a PF do Rio apreendeu 13 toneladas em julho.
A PF é responsável pela maior parte das drogas ilegais recolhidas no Brasil. Não há estatística nacional, somando também as polícias estaduais, sobre o tema.
A busca de maconha, contudo, não é a prioridade da Polícia Federal, que se concentra no combate à cocaína, droga que envolve organizações mais poderosas do narcotráfico internacional.
A perseguição ao traficante Fernandinho Beira-Mar na fronteira com o Paraguai rendeu as informações centrais para as apreensões de maconha. No Centro-Oeste, a PF achou 70% da maconha recolhida nacionalmente.
A Operação Cobra, lançada pela Polícia Federal nos 1.644 km de fronteira com a Colômbia na semana passada, tem como um dos objetivos impedir que cresça na área a ação de traficantes colombianos de cocaína.
Com o Plano Colômbia, patrocinado pelos EUA, a repressão a traficantes e guerrilheiros do país vizinho será intensificada. A PF teme que haja deslocamento numeroso para território brasileiro.


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