São Paulo, terça-feira, 03 de outubro de 2000

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Brasil pode ser rota para refino de droga

SOLANO NASCIMENTO
ENVIADO ESPECIAL A RIO BRANCO

Duas apreensões em quatro dias de pasta de coca embarcada em Cruzeiro do Sul, no Estado do Acre, na fronteira com o Peru, reforçaram a suspeita da Polícia Federal de que narcotraficantes peruanos estão deixando de procurar laboratórios colombianos, atualmente sob forte repressão, e passando a usar o Brasil como rota para buscar o refino da droga em outros países.
As apreensões foram feitas na terça-feira e na sexta-feira da semana passada. No total, foram encontrados 79,3 quilos da pasta, que é preparada com a folha da coca e, depois de refinada, transformada em cocaína.
A primeira apreensão ocorreu em Manaus (AM). A PF prendeu no aeroporto três brasileiros que haviam embarcado em um vôo em Cruzeiro do Sul. O avião fez uma conexão em Rio Branco (AC) e se dirigia para Belém (PA).
Os brasileiros estavam com 37,8 quilos de pasta.
A segunda apreensão foi na noite da última sexta-feira em Cruzeiro do Sul. Policiais federais que vigiavam um suposto traficante descobriram 41,5 quilos de pasta camuflada em um fundo falso de um automóvel que seria levado para Rio Branco na carroceria de um caminhão.
Esse tipo de transporte de automóvel é comum devido à precariedade dos 640 quilômetros de rodovia que ligam Cruzeiro do Sul à capital.
Foi a maior apreensão de pasta de coca do ano no Estado do Acre.
Outras seis apreensões haviam sido feitas este ano em Cruzeiro do Sul, mas a média era de 12 quilos cada uma.
No ano passado, em todo o Estado, foram apreendidos 310 quilos de pasta. Este ano, as apreensões já chegam a 240 quilos.

Alto custo
De acordo com o delegado Glorivan Bernardes, superintendente da Polícia Federal no Acre, o deslocamento de pasta peruana para o Brasil é uma maneira encontrada pelos traficantes de fugir do alto custo do refino em laboratórios da Colômbia, principalmente por causa das altas taxas de proteção que eles pagam a guerrilheiros e militares.
"Ainda não temos certeza de qual seria o destino da pasta apreendida", afirma o superintendente da PF.
Ele suspeita de que a droga estava sendo transportada para laboratórios de refino da Guiana, do Suriname e da Guiana Francesa, mas não descarta a possibilidade de a pasta ter sido enviada para preparo dentro do Brasil.

Operação
O governo brasileiro lançou, na semana passada, a Operação Cobra. Por essa operação foi reforçada a fiscalização da fronteira do Brasil com a Colômbia, no Amazonas.
A intenção é impedir que narcotraficantes e guerrilheiros busquem novas áreas de atuação por causa do Plano Colômbia, que reúne os governos colombiano e norte-americano no combate à produção de cocaína.


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