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TRANSPORTE
Só 40% dos registros de radares e lombadas eletrônicas são aproveitados; 43% das infrações desde 97 não foram pagas
60% dos infratores "escapam" de multa
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dos motoristas flagrados por
excesso de velocidade pelos aparelhos de fiscalização fotográfica
em São Paulo, 60% "escapam" do
pagamento das multas.
Levantamento feito pela Folha,
a partir de dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), mostra que esse é o percentual das imagens de veículos que
superam a velocidade permitida
que são descartadas pelas empresas que operam o sistema. Ou seja, de cada 100 infrações, só 40 são
convertidas em multa.
Os que ainda não pagaram
-ou seja, estão inadimplentes-
representam 17% dos infratores.
Para ter uma idéia, 43% (1,36 milhão) das multas por excesso de
velocidade emitidas pela Prefeitura de São Paulo desde fevereiro de
1997 ainda não foram pagas.
É como se os cofres do município tivessem deixado de receber
todas as multas de radares e lombadas eletrônicas aplicadas de outubro de 1998 a julho de 2000.
Se esses valores fossem os menores previstos para excesso de
velocidade (R$ 127), isso significaria cerca de R$ 173 milhões. Os
gastos da CET não devem superar
R$ 200 milhões no próximo ano.
"A gente já tem uma proporção
grande de impunidade. Ou seja,
só uma pequena parte das infrações são detectadas pelo poder
público. Agora, das que são detectadas, apenas uma pequena parte
é convertida em punição. Isso dá
ao motorista infrator quase que
uma certeza absoluta da impunidade", afirma David Duarte Lima,
professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília e
presidente do Instituto de Segurança no Trânsito.
A fiscalização fotográfica de velocidade em São Paulo começou a
funcionar em 1997. Três empresas
venceram licitação para operar
cada tipo de aparelho. Hoje há 40
radares fixos da Engebras, que
podem atuar em 160 pontos. Outros 20 radares são móveis, da
Consladel. E há 31 lombadas eletrônicas, operadas pela Inepar.
Essas empresas são remuneradas segundo a quantidade de infrações. A Engebras recebe R$
18,97 para cada multa paga pelos
motoristas; a Consladel, R$ 23,30;
já a Inepar ganha R$ 29,09.
"O radar é uma máquina altamente eficiente. Mas há fatores
externos que acabam alterando as
condições de visibilidade", afirma
Stefan Pawluk, gerente de suporte
da CET, justificando o cancelamento de 60% das infrações detectadas pelos equipamentos.
Além dos problemas de foco e
de luz, essas imagens são descartadas em razão de placas adulteradas ou ilegíveis por causa de ferrugem e sujeira. As ocorrências de
ambulâncias, carros de polícia e
de outros Estados, por exemplo,
também não são consideradas.
Segundo Pawluk, somente 3%
das multas feitas por marronzinhos (fiscais da CET), em média,
são canceladas por inconsistência
no preenchimento. "Com os radares, só usamos a fotografia que
estiver perfeitamente legível. Na
dúvida, a gente não multa. Se a
gente fosse uma indústria das
multas, aproveitaríamos 90% das
imagens", afirma Pawluk.
Para o engenheiro Luiz de Carvalho Montans, responsável pela
assessoria de segurança de trânsito da CET, "a indústria da infração é muito maior (que a das multas)". Para educar os motoristas,
diz, "é importante perceber que a
possibilidade de punição é alta".
"Antes isso (só 23% de infratores punidos) do que ninguém ser
punido, como acontecia até então. Pode até gerar (impunidade),
mas não tem outra forma. O equipamento é limitado", afirma.
Para Montans, porém, esses radares e lombadas fotográficas foram eficientes na redução do número de vítimas no trânsito.
"As multas não efetuadas por
problemas de identificação não
podem ser previstas pelos usuários. São muito mais preocupantes os problemas relacionados
com a falsificação de placas e mesmo com a falta de articulação na
cobrança das multas entre os Estados", afirma o engenheiro Hugo
Pietrantonio, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade de São
Paulo (USP).
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