São Paulo, quarta-feira, 03 de outubro de 2007

Próximo Texto | Índice

GILBERTO DIMENSTEIN

Campeonato do pastel


O chefe de cozinha Allan iniciou, no domingo passado, um campeonato para eleger o melhor pastel de feira

O CHEFE DE COZINHA Allan Vila Espejo encontrou na feira uma receita para ganhar dinheiro. Já que os feirantes jamais se mudariam do local em que está o seu restaurante, o La Pepa, em Moema, ele preferiu se adaptar a essa realidade e, entre outras novidades, iniciou, no domingo passado, um campeonato, com um júri de 12 chefes de cozinha, no qual se elegeria a melhor receita de um prato típico paulistano: o pastel de feira. "Desde menino, sempre gostei de feira." E também sempre gostou de brincar na rua.
A idéia nasceu como solução de um problema, especialmente para quem tem um restaurante: aos domingos, os feirantes fechavam a rua, afastando a clientela -em geral, pouco disposta a estacionar o carro longe e menos ainda a passar no meio da balbúrdia. "Fui procurar a solução bem na minha frente."

 


Ele criou um estacionamento para os carrinhos de feira para que as pessoas pudessem almoçar em seu restaurante antes de voltar para casa. Pensou, então, que poderia oferecer um atrativo a mais e se dispôs a temperar, com o seu toque, as verduras frescas compradas pelos clientes -tudo sem cobrar nada. "Acabei pegando gosto." Um gosto que o levou de volta para a infância, quando morava com os seus pais num pequeno estúdio de fotografia na rua Augusta, em cima de uma livraria -eram os tempos em que aquela rua era um dos pontos mais charmosos da cidade. "A Augusta era uma espécie de playground da minha casa."
Numa São Paulo ainda quase provinciana, os motoristas dos ônibus elétricos sabiam onde Allan morava e, por ser ainda um garoto pequeno, obteve o direito de pegar o ônibus fora do ponto. Ele passou a infância entre as atrações da vizinhança, onde, em geral, em meio a uma paisagem de deslocados e alternativos, apareceria tudo o que seria moda.

 


A culinária não fazia parte das escolhas de Allan. Trabalhou com informática, mas cansou-se daquele ambiente corporativo empresarial e abriu um pequeno restaurante. "Cozinhava brincando para os amigos e não pensava que podia tirar da culinária, além de prazer, dinheiro." Tirou. Tanto que abriu uma cadeia de restaurantes, entre os quais aquele tumultuado pelos feirantes aos domingos -justamente um bom dia para ganhar dinheiro.
No esforço de integração, nasceu a proposta, em certo tom de brincadeira, de fazer o campeonato de pastéis, com direito a júri de chefs, apenas para aquela feira. Uma das primeiras regras: nada de invencionice. Só podiam disputar pastéis de carne, queijo e palmito. A considerar a reação do público ao campeonato, a brincadeira talvez vire coisa séria.

 


A próxima disputa ocorrerá nos Jardins, a poucos metros de onde Allan foi criado. Desta vez, o coordenador será Alex Atala, considerado um dos melhores chefs do mundo. Decidiram fazer eliminatórias em vários bairros para que, no final, seja entregue o título anual de melhor pastel da cidade -o que, em se tratando do gosto dos paulistanos pela iguaria, não é pouca coisa.

gdimen@uol.com.br


Próximo Texto: A cidade é sua: Leitor reclama de falta d'água em Ibiúna durante três dias
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.