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CÓDIGO GENÉTICO
Banco público, coordenado pela Faculdade de Medicina da USP, já coletou 33 amostras de pais cujos filhos sumiram
DNA agiliza busca de criança desaparecida
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um banco público de DNA é a
nova arma da polícia e de pesquisadores na busca por crianças e
adolescentes brasileiros desaparecidos. Só no Estado de São Paulo, ocorrem por ano 8.300 casos, o
equivalente a 43% do total de desaparecimentos. No Brasil, esse
número chega a 30 mil.
Em um mês de funcionamento,
o banco, coordenado pela
FMUSP (Faculdade de Medicina
da USP de São Paulo), coletou 33
amostras de DNA de pais que deram queixa do desaparecimento
dos filhos nas delegacias da capital. O DNA (ácido desoxirribonucleico) reúne os elementos genéticos que identificam cada ser humano. É extraído a partir de uma
gota de sangue ou da saliva.
A análise do DNA dos pais gera
um perfil que é inserido em um
banco de dados. Toda vez que
uma criança sem filiação for achada, uma amostra do DNA também vai para o banco. Assim, as
informações são cruzadas.
Segundo a médica Gilka Gattás,
chefe do departamento de medicina legal da FMUSP e coordenadora do projeto, se não for encontrada nenhuma compatibilidade,
o DNA fica arquivado. Sempre
que um pai -ou uma criança-
entra no sistema, automaticamente os dados são cruzados.
O laboratório conta com um seqüenciador automático de DNA,
avaliado em R$ 1 milhão, que foi
doado por uma empresa de tecnologia. Ele permite a análise de
2.000 amostras de material genético por semana. Os materiais necessários para realizar o exame e
os custos do processo serão bancados pelo governo do Estado.
A equipe aguarda agora a autorização da Corregedoria do Estado para colher amostras de DNA
de crianças que vivem em abrigos
públicos. Só no Estado de São
Paulo, há 3.900 crianças, sem vínculo familiar, nesses locais.
Segundo Gattás, até hoje a localização das crianças normalmente
acontece quando alguém as identifica por fotos. O problema é que,
quando o desaparecimento já dura mais de dez anos, o reconhecimento é dificultado pela mudança de fisionomia. A genotipagem
otimizaria o processo com 99,9%
de chances de acerto.
A médica lembra que o banco
de DNA vai evitar que as famílias
sejam chamadas várias vezes para
a identificação, ou que tenham
que se deslocar para outras cidades ou Estados para fazê-lo.
Para Ivanise Esperidião da Silva,
presidente da ABCD (Associação
Brasileira de Busca e Defesa a
Crianças Desaparecidas), é fundamental que o banco seja estendido a outros Estados para evitar
que as famílias se desloquem.
Ela própria, que tem uma filha
desaparecida há nove anos, já viveu essa situação inúmeras vezes.
"Toda vez que aparece uma notícia, cria-se uma expectativa muito
grande. Quando se trata de um
alarme falso, vira um misto de
frustração, revolta, impotência e
inconformismo", conta Ivanise.
Segundo ela, muitas famílias
não têm condições financeiras
para arcar com os custos dessas
viagens. A ABCD tem um arquivo
com 5.000 casos de desaparecimentos infanto-juvenis.
Gattás afirma que o projeto começou no Estado de São Paulo,
mas há perspectiva de ampliá-lo
para todo o país. Não há, entretanto, prazo para isso acontecer.
Ivanise considera fundamental
também a criação de um cadastro
nacional de desaparecidos e que, a
partir disso, haja comunicação
entre as polícias estaduais.
De acordo com o delegado Antonio Mestre Júnior, da divisão de
proteção à pessoa, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), mesmo sem essa
rede os policiais paulistas trocam
informações com outros Estados.
Para ele, é preciso que o banco
de DNA seja estendido à população adulta desaparecida -cerca
de 11 mil por ano. O número de
pessoas desaparecidas achadas
mortas no país gira em torno de
10% do total de casos registrados.
A maior parte dos desaparecimentos infanto-juvenis é de adolescentes entre 14 e 18 anos e, em
geral, provocada por conflitos familiares, afirma Mestre Júnior.
É nessa faixa etária que há também o maior índice de localização
de desaparecidos: 73%. Entre os
adultos, a taxa é de 66%.
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