São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

HOMENAGEM

Missa foi celebrada por d. Paulo Evaristo Arns e pelo padre Júlio Lancellotti em cemitério onde estão enterradas vítimas

Ato para moradores de rua assassinados reúne mil pessoas

FERNANDA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Chega de albergue. São Paulo tem 7.000 vagas. O povo da rua precisa é de trabalho. O povo da rua não é lixo", afirmou ontem o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua.
Ele se referia ao discurso do prefeito eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), no debate realizado com a prefeita Marta Suplicy (PT) na televisão, na sexta passada, antes das eleições. Serra afirmou que a cidade precisava de mais albergues para a população de rua.
Cerca de mil pessoas assistiram à missa celebrada ontem por d. Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, e pelo padre Júlio Lancellotti, no cemitério d. Bosco de Perus (zona norte).
A missa foi realizada em homenagem ao Dia de Finados e aos moradores de rua mortos no centro de São Paulo no final de agosto. "Vamos rezar por aqueles que os homens esquecem, sobretudo os homens da rua que foram enterrados aqui", disse d. Paulo.
A missa ocorreu próximo ao monumento erguido em memória aos presos políticos do regime militar, enterrados em valas comuns e sem identificação.
Em seguida, ao som da música "Pra não dizer que não falei das flores", de Geraldo Vandré, os fiéis caminharam em direção à sepultura dos moradores de rua.
Cerca de 30 crianças atendidas pela Pastoral da Criança carregavam balões brancos e margaridas. Quatro delas levavam às mãos a bandeira do Brasil.
Cinco moradores de rua, quatro homens e uma mulher, estão enterrados no cemitério. Não há lápides, nem fotos. Sobre os túmulos, uma camada de grama, ainda crescendo, e, em cada um, uma placa numerada, de um a cinco.
"Vamos pedir à Arquidiocese de São Paulo um monumento para os moradores de rua como o que foi feito para os presos políticos", disse o padre. "Já avisamos a polícia que no dia 19 deste mês [três meses após o massacre], queremos saber quem são os culpados." Três policiais militares e um segurança particular estão presos por suposto envolvimento nas mortes de sete moradores de rua nos dias 19 e 22 de agosto.


Texto Anterior: SP cancela 792 concessões de túmulo em 2004
Próximo Texto: Panorâmica - Minas: Família acusa policiais de espancamento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.