São Paulo, quinta-feira, 03 de novembro de 2005

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PM não sobe e traficantes não descem

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Os remanescentes da quadrilha de Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi, ocupam, armados com fuzis, granadas e pistolas, o interior da favela da Rocinha (São Conrado, zona oeste do Rio), onde a polícia, por ordem da governadora Rosinha Matheus (PMDB), evita entrar, temendo a possibilidade de que inocentes sejam feridos em tiroteios.
O efetivo da Polícia Militar na Rocinha se limita, desde a morte de Bem-Te-Vi, a vigiar os acessos. O comandante da PM, coronel Hudson de Aguiar, disse ontem que não estão planejadas novas operações dentro da favela.
A ordem para que as polícias Militar e Civil evitem tiroteios dentro de comunidades carentes foi dada há dez dias pela governadora ao secretário estadual de Segurança Pública, Marcelo Itagiba.
A governadora e seu marido, o secretário estadual de Governo e pré-candidato do PMDB à Presidência da República, Anthony Garotinho, manifestaram preocupação com os tiroteios entre policiais e traficantes, por causa das vítimas civis.
Nas ações da PM, vinham ocorrendo mortes e ferimentos graves provocados pelas balas perdidas dos confrontos entre policiais e traficantes. Isso estaria causando nas comunidades uma revolta grande contra Rosinha e Garotinho, que já ocupou o cargo de secretário de Segurança Pública no atual governo.
Tido no PMDB como um dos candidatos do partido à Câmara dos Deputados no ano que vem, Itagiba retransmitiu a determinação da governadora ao comandante da PM e ao chefe de Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, que é filiado ao PSC, partido auxiliar dos Garotinho. Lins é citado como provável candidato a deputado estadual.
Desde então, a polícia tem evitado operações e incursões em áreas densamente povoadas, como os complexos de favelas da Maré e do morro do Alemão e a favela do Jacarezinho, todos na zona norte carioca.
A exceção foi a operação que resultou na morte de Bem-Te-Vi, na madrugada de sábado, no do Valão, parte baixa da Rocinha.
De acordo com a Secretaria de Segurança, a operação só ocorreu porque houve um planejamento prévio por parte da Polícia Civil.
Embora a secretaria diga que a Rocinha está ocupada, existe na verdade um cerco. Os PMs ficam nos acessos. Dentro da favela, os criminosos ainda mandam.
Os traficantes evitam apenas as imediações do DPO (Destacamento de Policiamento Ostensivo) da PM, localizado na estrada da Gávea, que corta o morro onde se instalou a favela.
Em contrapartida, os PMs escalados para o serviço no DPO, mesmo apoiados por equipes extras fortemente armadas, não circulam pelo interior da Rocinha.


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