São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2010

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ANÁLISE

Roubo a prédio cresce porque é mais barato para os criminosos

LEANDRO PIQUET CARNEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Cada crime tem sua lógica e demanda estratégias específicas de prevenção. Os roubos a condomínios são cometidos por grupos organizados. É um crime que exige planejamento. Dados precisam ser obtidos de um funcionário corrupto ou da observação do alvo. Requer conhecimento e paciência, algo escasso entre infratores.
É também um tipo de crime no qual os infratores trabalham juntos há algum tempo. Essa é a chave para se entender por que os capturados têm em média mais de 30 anos. São veteranos, uma vez que a carreira criminal típica começa por volta dos 15 anos.
Esse crime exige ainda recursos: armas, telefones, rádios e carros fazem parte do "kit básico" do assaltante. Estamos diante de um exemplo de ação do crime organizado praticada por grupos que migram de uma atividade para outra, ou mudam sua área de atuação. Os investimentos feitos pelas polícias na repressão ao sequestro, ao roubo de banco e de carga aumentaram o custo desses crimes. A lógica econômica do crime organizado é simples: quanto maior o custo, menor os ganhos.
Os roubos a condomínio aumentaram porque esse tipo de crime ficou mais barato. Pode não ser o mais lucrativo, mas a probabilidade de captura e condenação representa um custo importante na decisão dos criminosos.
Condomínios são mais fáceis de serem roubados do que bancos. No mercado do crime, os grupos mais organizados são os que ocupam os melhores nichos e descobrem mais depressa as oportunidades de "negócios".
O problema pode ser controlado com o aumento dos gastos privados com segurança. A expansão dos serviços que ocorreu nas últimas décadas tem modificado até mesmo a forma como é exercido o policiamento público.
E isso não é necessariamente ruim. As ações entre as polícias e a segurança privada podem ser complementares em vários sentidos e podem produzir benefícios para toda sociedade, não apenas para quem paga pelo serviço privado. O aumento da segurança privada não significa a erosão do poder do Estado.
Viver em um mundo mais violento, com mais crimes, exige maiores gastos com segurança, principalmente o gasto privado. Essa é uma resposta racional ao risco.


LEANDRO PIQUET CARNEIRO é cientista político, responsável pelo setor de Inovações em Políticas de Segurança Pública do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da USP.


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