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RETRATOS DO BRASIL
Segundo dados do IBGE, diploma universitário é privilégio de 6,8% da população com mais de 25 anos
Só 5,8 milhões têm curso superior no Brasil
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
O Brasil é um país de poucos diplomas universitários, concentrados numa elite: apenas 6,8% da
população com mais de 25 anos
concluiu o nível superior. A região Sudeste, a mais rica do país,
concentra 59,7% dos diplomas e
os brancos têm quatro vezes mais
acesso ao ensino superior que os
pretos, pardos e indígenas.
Há também uma concentração
por área de atuação: do total de
pessoas com diploma de graduação, 62,6% cursaram ciências sociais, humanas ou de educação.
Ao todo, só 5,8 milhões de brasileiros têm nível superior, sendo
5,5 milhões com graduação (6,4%
do grupo acima de 25 anos) e 304
mil com mestrado ou doutorado
(0,4%). Houve um aumento em
relação a 1991, quando essa proporção era de 5,8%.
No conjunto da população
(169,7 milhões), a proporção das
pessoas com nível superior concluído cai para 3,43%, de acordo
com os dados do Censo 2000 realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em 1991, a taxa era de 2,77%.
Em 2000, além das que tinham o
nível superior, ainda cursavam a
graduação cerca de 2,8 milhões de
pessoas, e outras 162 mil faziam
mestrado ou doutorado.
Apesar do aumento em relação
a 1991, a proporção de brasileiros
com nível superior é considerada
baixa pelos especialistas se comparada à de países desenvolvidos
ou em desenvolvimento. O IBGE
fala em "quadro perverso" para a
educação no Brasil.
Dados do Banco Mundial apontam que, no final dos anos 90, o
Brasil tinha uma taxa bruta de escolarização no ensino superior de
cerca de 15%, enquanto, na mesma época, a taxa era de 36% na
Argentina, 63% na Austrália, 38%
no Chile, 54% na França, 21% no
México e 73% nos EUA.
Essa taxa não mede o número
de graduados, mas o número de
matrículas em comparação com a
população na idade universitária.
Para a consultora em educação
Dolores Kappel, a expansão do
ensino superior na última década
ficou muito abaixo das necessidades do país. "Se a gente considerar
apenas as matrículas da população jovem, a situação é pior, pois
muita gente entra na universidade fora da época", afirma.
O sociólogo Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE e hoje pesquisador do Iets (Instituto
de Estudos do Trabalho e Sociedade), diz que a expansão do ensino superior praticamente duplicou a oferta de vagas nos anos 90.
Mesmo assim, ainda há, segundo
ele, uma população mais velha
que não se beneficiou.
A área que tem mais graduados
é a de ciências sociais, administração e direito (39,8%), que inclui
cursos como psicologia, ciência
política, economia, jornalismo,
biblioteconomia, publicidade e finanças. Depois vem saúde (15%),
seguida de educação (11,5%).
Kappel diz que a concentração
na área de humanidades pode estar ligada a vários fatores, como a
maior oferta de cursos nessa área,
que requer menos investimentos
em laboratórios e tecnologia.
As mulheres (equivalentes a
50,3% da população) representam 54,3% dos que têm nível superior, sendo 55% dos graduados
e 43% dos que têm mestrado ou
doutorado. Os últimos 20 anos
são fundamentais no acesso feminino ao ensino: em 1991, as mulheres alcançaram a média de 4,8
anos de estudo, empatando com
os 4,7 anos obtidos pelos homens.
Em 2000, chegaram a 5,9 anos, enquanto os homens registraram
5,6 anos de estudo.
Mais brancos
Os dados do Censo mostram
que a universidade no Brasil é
quase uma exclusividade dos
brancos: da população com mais
de 25 anos e nível superior, 82,8%
são brancos. Dos brasileiros com
nível superior, apenas 12,2% são
pardos, 2,1%, pretos e 2,3%, amarelos. Só 0,1% é indígena. Em
comparação com o total da população do país (53,8% de brancos,
6,2% de pretos, 0,5% de amarelos,
39,1% de pardos e 0,4% de indígenas), há mais brancos e mais amarelos que o esperado.
Quase nada mudou em relação
a 1991, quando o Censo apontou
que 83,1% dos que tinham nível
superior eram brancos.
Para o cientista social José Luiz
Petruccelli, do Departamento de
Indicadores Sociais do IBGE, a
baixa presença de negros na universidade "não tem outra explicação a não ser racismo". "É a discriminação, é a sociedade de castas presente no Brasil."
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