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São Paulo, quarta-feira, 03 de dezembro de 2003

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RETRATOS DO BRASIL

Segundo dados do IBGE, diploma universitário é privilégio de 6,8% da população com mais de 25 anos

Só 5,8 milhões têm curso superior no Brasil

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O Brasil é um país de poucos diplomas universitários, concentrados numa elite: apenas 6,8% da população com mais de 25 anos concluiu o nível superior. A região Sudeste, a mais rica do país, concentra 59,7% dos diplomas e os brancos têm quatro vezes mais acesso ao ensino superior que os pretos, pardos e indígenas.
Há também uma concentração por área de atuação: do total de pessoas com diploma de graduação, 62,6% cursaram ciências sociais, humanas ou de educação.
Ao todo, só 5,8 milhões de brasileiros têm nível superior, sendo 5,5 milhões com graduação (6,4% do grupo acima de 25 anos) e 304 mil com mestrado ou doutorado (0,4%). Houve um aumento em relação a 1991, quando essa proporção era de 5,8%.
No conjunto da população (169,7 milhões), a proporção das pessoas com nível superior concluído cai para 3,43%, de acordo com os dados do Censo 2000 realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 1991, a taxa era de 2,77%.
Em 2000, além das que tinham o nível superior, ainda cursavam a graduação cerca de 2,8 milhões de pessoas, e outras 162 mil faziam mestrado ou doutorado.
Apesar do aumento em relação a 1991, a proporção de brasileiros com nível superior é considerada baixa pelos especialistas se comparada à de países desenvolvidos ou em desenvolvimento. O IBGE fala em "quadro perverso" para a educação no Brasil.
Dados do Banco Mundial apontam que, no final dos anos 90, o Brasil tinha uma taxa bruta de escolarização no ensino superior de cerca de 15%, enquanto, na mesma época, a taxa era de 36% na Argentina, 63% na Austrália, 38% no Chile, 54% na França, 21% no México e 73% nos EUA.
Essa taxa não mede o número de graduados, mas o número de matrículas em comparação com a população na idade universitária.
Para a consultora em educação Dolores Kappel, a expansão do ensino superior na última década ficou muito abaixo das necessidades do país. "Se a gente considerar apenas as matrículas da população jovem, a situação é pior, pois muita gente entra na universidade fora da época", afirma.
O sociólogo Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE e hoje pesquisador do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), diz que a expansão do ensino superior praticamente duplicou a oferta de vagas nos anos 90. Mesmo assim, ainda há, segundo ele, uma população mais velha que não se beneficiou.
A área que tem mais graduados é a de ciências sociais, administração e direito (39,8%), que inclui cursos como psicologia, ciência política, economia, jornalismo, biblioteconomia, publicidade e finanças. Depois vem saúde (15%), seguida de educação (11,5%).
Kappel diz que a concentração na área de humanidades pode estar ligada a vários fatores, como a maior oferta de cursos nessa área, que requer menos investimentos em laboratórios e tecnologia.
As mulheres (equivalentes a 50,3% da população) representam 54,3% dos que têm nível superior, sendo 55% dos graduados e 43% dos que têm mestrado ou doutorado. Os últimos 20 anos são fundamentais no acesso feminino ao ensino: em 1991, as mulheres alcançaram a média de 4,8 anos de estudo, empatando com os 4,7 anos obtidos pelos homens. Em 2000, chegaram a 5,9 anos, enquanto os homens registraram 5,6 anos de estudo.

Mais brancos
Os dados do Censo mostram que a universidade no Brasil é quase uma exclusividade dos brancos: da população com mais de 25 anos e nível superior, 82,8% são brancos. Dos brasileiros com nível superior, apenas 12,2% são pardos, 2,1%, pretos e 2,3%, amarelos. Só 0,1% é indígena. Em comparação com o total da população do país (53,8% de brancos, 6,2% de pretos, 0,5% de amarelos, 39,1% de pardos e 0,4% de indígenas), há mais brancos e mais amarelos que o esperado.
Quase nada mudou em relação a 1991, quando o Censo apontou que 83,1% dos que tinham nível superior eram brancos.
Para o cientista social José Luiz Petruccelli, do Departamento de Indicadores Sociais do IBGE, a baixa presença de negros na universidade "não tem outra explicação a não ser racismo". "É a discriminação, é a sociedade de castas presente no Brasil."


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