São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2004

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Matriarca fez primeira bandeira

DA SUCURSAL DO RIO

Os pioneiros da aldeia do Imbuhy chegaram ao trecho hoje ocupado pelo Exército por volta de 1880, quando a construção do forte do Imbuhy, iniciada 20 anos antes, estava abandonada.
Naquele deserto trecho do litoral fluminense, surgiu uma vila de pescadores. O forte só teve a construção retomada após a Proclamação da República (1889), sendo inaugurado em 1901.
A instauração da República em substituição à Monarquia marcou a vida da aldeia. Coube então à hoje considerada matriarca da comunidade, Flora Simas de Carvalho, a dona Iaiá, bordar a primeira bandeira republicana, encomendada pelo marechal Deodoro da Fonseca, presidente do país após a deposição do imperador d. Pedro 2º. Bordadeira renomada à época, apesar de seus 16 anos, ela fez a bandeira que foi hasteada em 19 de novembro de 1889. Na data passou a ser comemorado o Dia da Bandeira.
Cerca de metade dos 150 moradores da aldeia descendem de dona Iaiá. O pescador Marcelo Carpanedo de Carvalho é seu tataraneto. Ele diz estar preocupado com a possibilidade de ter que deixar o lugar onde vive desde que nasceu. Aos 33 anos, só agora está completando o primeiro grau. Sobrevive graças à pesca e a um bar rústico na praia do Imbuhy. "Se for expulso, não tenho para onde ir nem onde trabalhar. Como vou sustentar meus dois filhos?", pergunta ele, para quem a situação enfrentada pelos moradores chegou ao limite.
O mais antigo morador do lugar é o aposentado Antônio Nunes Navega Júnior, 86, funcionário civil do Exército. Ele chegou à aldeia em 1939, casando com a nativa Alaíde dos Santos. É pai do petroleiro Aílton Navega, que preside a associação de moradores. Reticente em dar entrevista, pois diz temer represálias dos militares, Aílton Navega afirma apenas que decidiu resistir ao despejo porque nasceu e foi criado no lugar. "Nunca fui de abaixar a cabeça", limitou-se a dizer. (ST)


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