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Kassab prepara obras para justificar tarifa
Reajuste acima da inflação considerou plano de renovar 20% da frota e de abrir novos corredores de ônibus, como no eixo da 23 de Maio
Para gestão, medidas terão visibilidade e aliviarão peso da alta; usuário critica mais a qualidade do serviço que o preço, aponta pesquisa
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A gestão Gilberto Kassab
(PFL) embutiu nos cálculos
técnicos e políticos do reajuste
muito acima da inflação da tarifa de ônibus em São Paulo a
premissa de não abrir mão da
renovação da frota e das obras
nos corredores -mesmo que
isso onerasse os passageiros.
A opção foi feita diante da
avaliação de que esses investimentos teriam visibilidade e
compensariam, ao longo do
tempo, os desgastes provocados pela alta de 15% da passagem no último dia 30, de R$ 2
para R$ 2,30 -contra a alta de
6,9% do IPCA e 4,7% do IPC.
A decisão política envolve a
estratégia de, somente em
2007, substituir 20% da frota
de ônibus da capital paulista
por veículos novos e maiores,
buscando como meta emparelhar com a administração da
ex-prefeita Marta Suplicy (PT).
Ela também abrange os planos de acelerar a expansão do
Fura-Fila até Cidade Tiradentes, na zona leste, terminar as
obras do corredor da avenida
Vereador José Diniz e começar
as de novos corredores.
Uma das prioridades envolve
a pista exclusiva de ônibus à esquerda no eixo da 23 de Maio,
com passarelas suspensas conectadas a estações de transferência de passageiros. "O martelo ainda não está batido",
afirma Frederico Bussinger, secretário dos Transportes, embora seus assessores digam planejar ao menos um trecho dessa obra até 2008 (de um projeto
total de 100 km de corredores
na capital paulista inteira).
A avaliação de Kassab de que
a prioridade deveria ser buscar
alguma mudança visível do
transporte coletivo, e não necessariamente manter uma tarifa baixa, foi reforçada pelo posicionamento de empresários
de ônibus -diretamente interessados em novos investimentos (leia texto nesta página)- e
por uma pesquisa que chegou à
prefeitura antes da definição
do novo valor da passagem.
O levantamento da ANTP
(Associação Nacional de Transportes Públicos) feito entre
agosto e setembro deste ano
mostrava insatisfação maior da
população com a falta de qualidade dos ônibus paulistanos do
que com os preços cobrados.
Essa tendência foi reforçada
com a implantação do bilhete
único, em 2004, e sua integração com a rede metroferroviária, no final de 2005 -embora
60% dos passageiros usem uma
só condução em seu trajeto.
Na pesquisa da ANTP, a reclamação do preço, na época de
R$ 2, aparecia em sexto lugar
no ranking de itens que a população pedia ao transporte, com
6% das respostas, muito atrás,
por exemplo, dos 50% que queriam menor espera/mais ônibus nas ruas e 26% que cobravam a diminuição da lotação.
Além disso, a opinião dos que
consideravam a tarifa do ônibus da cidade de São Paulo cara
em relação à renda do passageiro havia despencado de 73%
para 58%, entre 2005 e 2006.
Os dados (que hoje, depois do
reajuste, poderiam ser bem diferentes) ajudaram a cúpula do
transporte a definir sua estratégia, principalmente depois da
intenção manifestada pelo prefeito de frear as crescentes subvenções, programadas no Orçamento para R$ 320 milhões no
ano que vem -quantia que
Kassab quer tentar reduzir na
prática, ainda que alguns técnicos digam ser insuficiente.
A opção foi estimulada, segundo assessores de Bussinger
e da presidência da SPTrans,
pela constatação de que, com a
existência do bilhete único, a
situação ainda segue vantajosa
para boa parte dos usuários.
Mas há técnicos do próprio
município para quem a prioridade deveria ser a manutenção
do baixo custo do transporte,
até devido ao crescimento elevado da passagem desde os
anos 90 -algo que levou muita
gente a ter que andar a pé por
não ter dinheiro para a tarifa.
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