São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2006

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Para atrair estudantes, universidades oferecem serviços de shoppings

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sala de videogame, salão de beleza, minishopping, laboratório clínico. Para atrair universitários, instituições particulares de São Paulo têm seguido o modelo norte-americano e investido cada vez mais em infra-estrutura.
Há casos em que só faltam os alojamentos. O campus do Senac em Santo Amaro (zona sul), que já tinha praça de alimentação e de serviços, como agência de viagem, inaugurou em setembro um complexo esportivo de 15 mil m2 com três piscinas aquecidas, oito quadras, pista de cooper e academia. Os alunos pagam mensalidade de R$ 100, já que o serviço é terceirizado.
O uso da biblioteca, no entanto, é livre. É lá que estão, além de 140 mil títulos, uma DVDteca gratuita e as salas de videogame. Gabriel Nascimento, 23, aluno de moda, tentava bater o recorde no jogo ""Tartarugas Ninja". "Vim liberar o estresse da aula. Desconto aqui o que não posso falar para alguns professores", dizia. "Essa sala é um dos destaques da faculdade."
Depois do almoço, é comum ver vários deles dormindo nos sofás ligados à biblioteca.
No campus da Metodista em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, os alunos podem fazer compras e até sair prontos para festas. Além de papelaria, livraria, locadora, bancos, lojas de celular e alimentação, há butiques e salão de beleza. "Tem aluna que compra um vestido e sai pronta para a festa", conta a vendedora Thaís Rodrigues.
No salão de beleza é difícil encontrar horário nos intervalos. "A gente não precisa sair da faculdade e acaba tendo mais tempo para fazer trabalhos, encontrar amigos", diz Paula Siviero, 20, aluna do 3º ano de fisioterapia.
O campus Planalto da Metodista, em São Paulo, tem laboratório de análises clínicas.
Na Uniban, há minishoppings com salão de beleza, livraria, lojas, banco, lanchonete, restaurante e academia terceirizada. A unidade da Vila Guilherme (zona norte) oferece a estrutura há dez anos.
Talita Affonso, 25, do 1º ano de educação física, às vezes mata a primeira aula para fazer exercícios na academia. "O horário é o mesmo."

Modelo dos EUA
Especialista em gestão e marketing educacional, Carlos Monteiro, consultor de mais de 300 instituições no país, diz que pelo menos 70% das universidades particulares têm, no mínimo, praça de alimentação e banco.
"Quase não existe mais aquela faculdade só com cantina e sala de cópias. As instituições investem em infra-estrutura, porque a concorrência está muito grande. Como cursos e mensalidades nessas entidades são parecidos, serviços são o diferencial."
A inspiração vem dos EUA, onde é comum a faculdade ter essa estrutura. O objetivo, dizem gestores, é atrair alunos, fazer com que fiquem mais tempo no local e convivam com colegas de outras áreas.

Mercado
Para educadores, as universidades precisam investir em estrutura, mas não podem deixar de lado a qualidade do corpo docente e do projeto pedagógico, oferecendo apenas serviços que podem ser encontrados em qualquer shopping.
"Universidade é para ensinar, não para ser shopping", diz Antônio Chizzotti, professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC-SP. "Claro que é preciso haver atividades que estimulem o convívio em grupo e a troca de idéia, mas há limite."
Coordenador do Núcleo de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade de Mogi das Cruzes, Adolfo Ignacio Calderón vê nova fase no cenário universitário. "É a partir da existência do amplo mercado que se desenham as tendências nas instituições", diz ele.


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