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Dinamarquesa deixa casa no Rio para ajudar vítimas
Jytte Nacht, 63, separa roupas doadas em Itajaí
ALENCAR IZIDORO
ENVIADO ESPECIAL A ITAJAÍ
Dona-de-casa, mulher de
empresário bem-sucedido,
mãe de cinco filhos, moradora
da Barra da Tijuca, "com saúde
na cabeça, no corpo e no bolso".
Com esse perfil, a dinamarquesa Jytte Nacht, 63, que vive
no Rio de Janeiro há quase 40
anos, deixou a situação familiar
confortável e pegou um avião
no último domingo para ajudar
as vítimas das enchentes em
Santa Catarina. "Cansei de ficar
só vendo as imagens pela TV."
Ela saiu de casa, apoiada pelo
marido e pelos filhos, sem saber ao certo onde e no que poderia contribuir e sem ter nem
mesmo lugar para dormir. Com
mochila nas costas, desembarcou no aeroporto de Navegantes, pegou um táxi e perguntou
para dois PMs que estavam na
rua onde poderia se tornar voluntária. Foi parar na Marejada, centro de distribuição e coleta de mantimentos às vítimas
da chuva em Itajaí.
"Já sou especialista em roupa
feminina P", brincou ela ontem, ao ser questionada pela
Folha sobre a sua função. Sua
atividade desde que chegou é
ajudar a separar a montanha de
roupas por tamanho.
Jytte imaginava que poderia
dormir no próprio local de trabalho. Mas descobriu que por lá
só passam a noite os homens
das Forças Armadas, até porque ela é das poucas voluntárias autônomas, vindas de fora
do Estado e desvinculada de
qualquer entidade governamental ou ONG.
"Os rapazes do Exército até
me convidaram para dormir
num canto. Mas achei melhor
não", contou ela, que pediu que
o filho procurasse uma vaga em
um hotel nas imediações.
A dinamarquesa-carioca perambula pelo galpão de trabalho como qualquer outro trabalhador, seja da limpeza, da alimentação ou da polícia. Só não
come a comida de todos porque
é vegetariana. Ontem, almoçava uma barra de cereais.
Ela diz que sempre teve vontade de ajudar as pessoas quando tomava conhecimento de
grandes tragédias. Só não tinha
feito nada parecido por conta
dos filhos, que hoje têm entre
20 e 38 anos. "O meu mais novo
saiu de casa neste ano. Agora
não tem desculpa, quero ser
mais útil para a sociedade. Sou
uma privilegiada."
A voluntária, que ficará em
Itajaí pelo menos até sexta-feira, chegou justamente num
momento em que as equipes
organizadoras lamentam a perda de voluntários.
Amauri Moraes dos Santos, secretário de Desenvolvimento
Econômico, Emprego e Renda
do município, disse que, diante
do acúmulo de roupas sem distribuição, pretende criar pontos que funcionarão como um
brechó -onde os moradores
deverão ir, em vez de receberem as doações em casa.
Dentre as doações recebidas
no Vale do Itajaí, os organizadores dizem que já há roupas
em quantidade suficiente. O
que mais eles pedem são colchões, travesseiros, roupas de
cama, além de produtos de limpeza e de higiene pessoal.
Em Blumenau, a ajuda também vem de todos os lados. Participante de um intercâmbio
cultural, a estudante da Eslováquia Lucia Bizikova, 18, também decidiu ajudar na organização dos donativos.
Como as aulas do intercâmbio haviam terminado, a estudante percebeu ter tempo de
sobra para ajudar.
Colaborou DIMITRI DO VALLE , da Agência Folha, em Blumenau
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