São Paulo, domingo, 4 de janeiro de 1998.



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HABITAÇÃO
Valor gasto pela prefeitura para construir unidade da Cohab daria para fazer 7 casas em sistema de mutirão no interior
Preço de conjunto habitacional varia até 561%

MARCOS PIVETTA e
ROGÉRIO GENTILE
da Reportagem Local

Com o mesmo dinheiro gasto pela Prefeitura de São Paulo para construir um apartamento da Cohab de no máximo 40 m2 de área útil (cerca de R$ 27 mil), os mutirões mantidos pelo governo do Estado conseguem erguer 7 casas de tamanho semelhante no interior ou 4 casas na região metropolitana de São Paulo. Essa mesma verba, se usada por mutirões financiados pela própria prefeitura paulista, é suficiente para erguer pelo menos duas casas de 60 m2 na cidade de São Paulo.
A Folha levantou o custo médio do m2 de área útil de cada um dos dez projetos de habitação popular mantidos pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) e pela Prefeitura de São Paulo.
A variação de custo do m2 entre o projeto mais caro e o mais barato chega a 561% (veja quadro).
O m2 mais caro é do programa Cohab, da prefeitura, cujo valor chega a R$ 675.
Também aparecem entre os programas com custos mais elevados os projetos Chamamento Empresarial, da CDHU, e o Cingapura, da prefeitura.
No caso do Cingapura (verticalização e urbanização de favelas, um dos principais motes eleitorais do prefeito Celso Pitta e de Paulo Maluf, candidato ao governo do Estado), o valor do m2 varia de R$ 411 a R$ 556, de acordo com o local onde o prédio é feito.

Mais barato
Entre os programas habitacionais, o m2 mais barato é o da modalidade de construção chamada de Habiteto (mutirões construídos no interior do Estado), criada pela CDHU, do governo estadual.
Por esse método, uma casa no interior com 36,15 m2 de área útil tem um custo médio para o Estado de R$ 3.700 -cerca de R$ 102 por m2, R$ 76 a menos do que o próprio CDHU gasta em mutirões para construir casas na capital.
Apesar de a construção em mutirão (quando os próprios moradores se unem para erguer suas moradias) ser a mais barata, Estado e prefeitura, nos últimos anos, priorizaram justamente os projetos de moradia popular mais caros -Cingapura e Cohab no caso da prefeitura e Chamamento Empresarial e Empreitada Global no caso da CDHU.
Em linhas gerais, prefeitura e CDHU argumentam que os mutirões são mais baratos, mas que sua execução é muito demorada e a qualidade final da moradia fica condicionada ao empenho, à organização e ao cuidado dos moradores-construtores.
Por isso, seriam necessárias outras formas de construção de projetos de habitação popular, mais caras, mas com mais agilidade de execução, principalmente para as populações moradoras das áreas de risco (onde é grande a possibilidade da ocorrência de desabamentos e enchentes).

Diferenças
Segundo CDHU e prefeitura, as variações de custo entre as várias modalidades de projetos de habitação popular se devem, basicamente, às diferentes características de cada um dos dos empreendimentos habitacionais.
Tanto prefeitura como o governo do Estado dizem que os projetos não podem ser comparados indiscriminadamente.
A Secretaria Municipal da Habitação, por exemplo, afirma que os prédios do projeto Cingapura são construídos na própria favela e, por isso, o custo pode ser maior. Isso porque incluiria os gastos com a remoção das famílias beneficiadas, durante a execução das obras, para moradias provisórias.
O custo de construção de casas é, em geral, mais barato do que o de apartamentos.
Um mesmo tipo de imóvel, se construído no interior do Estado, onde os terrenos são muito mais em conta do que na capital, também tem custo menor.
Nos projetos onde não há gasto com mão-de-obra, como nos mutirões, o custo é bem menor do que quando a obra é feita por empresas privadas contratadas pelo poder público, que têm de pagar salários e encargos da folha de pagamento.



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