São Paulo, sexta-feira, 04 de janeiro de 2002

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CASO ABRAVANEL

Diretor do IML admite que excesso de medicamentos pode prejudicar laudo do corpo de sequestrador

Remédios podem "esconder" causa da morte

Folha Imagem
O sequestrador Fernando Dutra Pinto


DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor do IML (Instituto Médico Legal) de São Paulo, José Jarjura Jorge Júnior, afirmou ontem que o laudo toxicológico do corpo de Fernando Dutra Pinto, sequestrador do apresentador de TV Silvio Santos e de sua filha Patrícia, pode não ser conclusivo sobre a suspeita de envenenamento.
Segundo Jorge Júnior, a medicação recebida por Dutra Pinto pode "maquiar" o resultado do exame. O sequestrador foi atendido no Hospital Santa Casa, na terça-feira, e no Hospital do Tatuapé anteontem, quando morreu.
"É uma das possibilidades. Mas só no final dos exames poderemos ter certeza disso", afirmou.
A suspeita de que Dutra Pinto possa ter sido assassinado fez o secretário da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi, quebrar o protocolo e pedir a interferência externa na produção dos exames toxicológicos.
Apesar de dizer que confia na sua polícia científica, Petrelluzzi pediu o acompanhamento da Comissão Teotônio Vilela, organização não-governamental de direitos humanos integrada por políticos de vários partidos.
O secretário determinou ainda a realização da contraprova dos exames do IML por instituições ligadas à Secretaria Estadual da Saúde, como o Instituto Adolfo Lutz, o Hospital Emílio Ribas e a Escola de Enfermagem da USP.
"Não que o IML precise disso. Mas como houve rumores de ter sido um assassinato, resolvemos fazer essas convocações para tornar o processo mais transparente possível", disse. Segundo o secretário, "os primeiros indícios levam a uma morte natural".
Petrelluzzi afirmou que os resultados preliminares dos primeiros exames devem ser obtidos na próxima semana. Entre eles, exames de amostras das vísceras e do fígado. "São principalmente esses órgãos que armazenam substâncias tóxicas", explicou.
Quanto à possibilidade do laudo não ser conclusivo, Petrelluzzi afirma que essa incerteza é comum nesses tipos de exame. "Um laudo não afirma totalmente uma coisa. Diz o que é possível e o que é impossível", afirmou.
""Se o resultado da perícia disser que ele foi assassinado, vamos investigar para saber o autor. Se foi doença, vamos investigar para saber se houve falhas no atendimento", disse ontem o secretário da Administração Penitenciária de São Paulo, Nagashi Furukawa.
Furukawa confirmou que os presos do CDP do Belém, onde Dutra Pinto estava, realmente comeram carne de porco no último dia 28 -bisteca, com arroz, feijão e banana à milanesa. Contudo nenhum dos 800 presos passou mal após a refeição desse dia.
O promotor Dimitrios Eugênio Bueri, que acompanha os casos de Dutra Pinto, disse ontem que pedirá a um perito do Ministério Público que acompanhe os procedimentos do IML para ver que provas são possíveis dos exames.
Além disso, o promotor pediu à Justiça um mandado de busca e apreensão do prontuário do preso, que está no CDP do Belém. O documento registra detalhes da rotina de atendimento médico.
O promotor quer saber o que ocorreu com ele nos dias que antecederam sua morte. O juiz-corregedor do Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais), Maurício Lemos Porto Alves, não havia analisado o pedido até o final da tarde de ontem, segundo a assessoria do Tribunal de Justiça.
Um bilhete enviado por Dutra Pinto da enfermaria, horas antes de morrer, para o irmão Esdra, em outra cela, trouxe ontem mais mistério ao caso (veja arte nesta página). Ele diz que não passa bem, pede remédio trazido pela mãe, barbeador e uma lâmpada.
Para sua advogada, Maura Marques, o texto confuso pode ser uma dica do que ele morreu, em código. ""O que um moribundo iria querer com uma lâmpada? Podem ter jogado pó de vidro no que ele comeu", afirmou.
(GILMAR PENTEADO, ALESSANDRO SILVA E SÍLVIA CORRÊA)


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