São Paulo, sexta-feira, 04 de janeiro de 2002

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Detentos teriam pedido socorro

DA REPORTAGEM LOCAL

O estado de saúde de Fernando Dutra Pinto piorou na noite de domingo, na cela onde estava trancado com mais 11 detentos, incluindo o irmão, Esdra. Sentia falta de ar e, apesar do pedido dos demais presos, não conseguiu sair dali para o pronto-socorro. Acabou na enfermaria do presídio, onde não havia médico de plantão, e voltou para a cela.
Ele somente seria examinado pelo médico do CDP, Ricardo Cezar Cypriani, no dia seguinte.
O relato do incidente faz parte de uma carta apócrifa atribuída a detentos do CDP do Belém e enviada anteontem à advogada do sequestrador Maura Marques.
Nela, dois detentos -vê-se pela diferença de caligrafia em dois diferentes trechos- narram que chamaram agentes penitenciários para ver o estado de Dutra Pinto. Isso foi por volta de 20h ou 21h.
""O Fernando piorou [na segunda vez que pediram" e novamente chamamos os funcionários, que mais uma vez nos ludibriou (sic) dizendo que teriam de telefonar para o diretor (...). Na real, eles mesmos alegaram que não tinha escolta", afirma trecho da carta.
Os agentes, de acordo com os detentos não-identificados, teriam dito que policiais civis e militares não queriam acompanhar o preso até o hospital.
A carta continua dizendo que faltava médico nessa noite -ele trabalha de dia- e que a prescrição ficava sob a responsabilidade de outros funcionários.
O secretário da Administração Penitenciária do Estado, Nagashi Furukawa, disse ontem que desconhecia o incidente de domingo e que ""não irá apurar o caso" por entender que não há relação com a morte do preso. ""Se procede ou não procede, não sei. Apuro as coisas relevantes", afirmou.
O juiz-corregedor dos presídios de São Paulo, Octávio Augusto Machado de Barros, no entanto, ao ser informado pela Folha da carta, disse que abriria sindicância para apurar o tipo de atendimento médico prestado ao detento dentro do CDP do Belém.
Esse não será o primeiro procedimento da Corregedoria para investigar o sistema médico das prisões de São Paulo. ""Há vários processos em andamento examinando a situação em hospitais ou a falta deles", diz ele.
Desde a morte de Dutra Pinto, integrantes do PCC estão protegendo o irmão dele, Esdra, que ainda continua no mesmo CDP do Belém. A facção criminosa pode ser a autora da carta apócrifa que saiu do CDP. (AS)


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