São Paulo, quinta-feira, 04 de janeiro de 2007

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PASQUALE CIPRO NETO

Júnior, juniores, sênior, seniores...


"Júnior" não vem do inglês; vem do latim, da mesma família de que vêm "jovem", "juventude", "Juventus"...


O TEXTO DA SEMANA passada (sobre a grafia de "Réveillon" e de outras palavras estrangeiras) rendeu muitas mensagens dos leitores. Um deles -Marcelo L. Arruda, de São Paulo- mandou um e-mail cujo assunto era "Sobre "Réveillon", galicismos, anglicismos, pronúncias importadas etc.". Em sua mensagem, o leitor fez diversas perguntas, que tentarei analisar.
A primeira delas se refere ao plural de "júnior". Marcelo Arruda diz que por muito tempo o plural foi pronunciado como "júniores", mas de uns tempos para cá locutores esportivos pronunciam "juniôres".
De fato, caro Marcelo, essa palavra é muito usada nos meios esportivos, sobretudo no futebol, quando se faz referência a jogadores de determinada faixa etária, mas não é só no "esporte bretão" que se vê seu emprego. Em "advogado júnior" ou "Juvenal Guimarães Júnior", por exemplo, emprega-se "júnior" com o sentido de "iniciante" e "o mais jovem de dois", respectivamente.
Diferentemente do que muita gente pensa, "júnior" não é palavra inglesa, não; é latina, da gema (a forma latina é "junior"). Ao pé da letra, significa "mais jovem" -trata-se do comparativo de superioridade de "juvene" (da qual deriva "jovem"). Como ocorre com todas as palavras portuguesas ou aportuguesadas terminadas em "r", seu plural é feito com o acréscimo de "es".
Quanto à pronúncia do plural, caro Marcelo, de fato ocorre oscilação (há até quem diga "júniors"), mas a forma culta consagrada é "juniores", com tonicidade no "o" (lê-se "juniôres"). Ocorre aí o deslocamento da sílaba tônica, fenômeno que não é exclusivo desse vocábulo: o plural de "júpiter" (que, quando nomeia o planeta, apresenta inicial maiúscula) é "jupíteres"; o de "sênior" é "seniores" (lê-se "seniôres"); o de "lúcifer" é "lucíferes"; o de "espécimen" pode ser "espécimens" ou "especímenes".
Cabe uma explicação em relação a dois dos termos citados no parágrafo anterior. Um deles é "júpiter", que, além de nomear o planeta e o pai dos deuses entre os romanos (com inicial maiúscula, nesses casos), significa "indivíduo de muito valor", "homem possuidor de grande fama" ("Houaiss"). O outro é "sênior", que também vem do latim (a forma original é "senior", comparativo de superioridade de "senex"). Ao pé da letra, "sênior" significa "mais antigo", "mais velho".
Qualquer semelhança ou afinidade entre "sênior" e "senil" não é mera coincidência... "Senil", "sênior" e "senhor" são da mesma família. Aliás, "senhor" e "sênior" são a mesma palavra, ou melhor, são duas formas portuguesas resultantes da latina "senior". Nada mais do que uma das tantas voltas que as línguas dão.
Bem, nossa viagem pelo mundo das palavras tem um velho e conhecido limitador, o espaço, que começa a escassear. Obviamente, não poderei responder a todas as perguntas do leitor, mas acho que consigo tratar de mais umazinha: a pronúncia de "ibero", que, como se deduz da grafia, é "ibéro", e não "íbero".
Por que "como se deduz da grafia"? Porque, se a sílaba tônica fosse a primeira, a palavra seria proparoxítona e, por isso, receberia acento agudo (grafar-se-ia "íbero"). Grafa-se "ibero" (sem acento) justamente porque o vocábulo é paroxítono (a tonicidade está no "e"). É isso.

inculta@uol.com.br


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