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PMs apóiam milícias em ataques, diz ONG
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Milícias formadas por policiais e ex-policiais que atuam
em favelas do Rio contam com
o apoio de PMs quando invadem uma comunidade para expulsar traficantes, segundo denúncias recebidas pela ONG
Observatório das Favelas.
Elas revelam que, antes dos
ataques, os policiais realizam
uma operação na área, usando
carros da corporação, veículos
blindados (apelidados de Caveirão e de Pacificador) e até
helicópteros, para preparar
o território para os milicianos
invadirem.
De acordo com Jaílson de
Souza, coordenador da ONG, os
PMs trocam tiros com os traficantes e, em seguida, os milicianos entram e expulsam os
criminosos.
Mesma violência
Esse grupos são acusados de
aplicar a mesma violência do
tráfico sobre aqueles que não
aceitam pagar taxas por serviços como segurança, TV a cabo
e até para vans que circulam
nas comunidades. A Observatório de Favelas é uma das entidades com maior atuação em
comunidades carentes no Rio.
Realiza projetos sociais com jovens das favelas.
Souza disse ter sido informado de que a ajuda ocorreu em
pelo menos três favelas invadidas por milícias desde novembro: a Kelson, na Penha; a Roquete Pinto, no complexo da
Maré; e Barbante, na Ilha do
Governador. Todas estão na zona norte.
Outra ajuda teria ocorrido na
noite da última sexta-feira,
quando um grupo de milicianos
atacou a favela Cidade de Deus,
em Jacarepaguá, na zona oeste.
Para impedir a entrada da milícia, os traficantes montaram
barricadas na avenida Miguel
Salazar Mendes de Morais,
com móveis e lixo queimado.
A PM foi para o local e desmontou a barreira. Em seguida,
um grupo de milicianos entrou
na comunidade e houve troca
de tiros, mas a favela não foi
tomada.
O presidente da Caixa Beneficente da Polícia Militar (uma
das associações de PMs), Jorge
Lobão, disse à Folha também
ter recebido denúncias de auxílio de policiais às milícias, mas
não informou em qual área isso
ocorreu.
Satisfeitos
Questionado pela reportagem sobre esta suspeita, o prefeito do Rio, Cesar Maia, que
vem denunciando a atuação
das milícias, afirmou que os policiais militares ficam satisfeitos quando esses grupos tomam uma favela.
"O tráfico de drogas mata os
policiais por prazer. Quando há
uma entrada de paramilitares
em comunidades onde existe
um batalhão da PM ao lado, é
natural que essa seja uma boa
notícia para os policiais que
não mineiram [extorquem] os
traficantes", disse
Além de contarem com o suposto apoio de policiais dos batalhões da área, os grupos invasores ainda "convidam" policiais de outras unidades para
ajudarem nos ataques.
Pelo serviço, eles não recebem nenhum centavo, conta
um policial. Depois que a área é
conquistada, eles são convidados a integrarem a equipe de
segurança e recebem até R$
100 por dia de trabalho.
Contatos
Segundo a Folha apurou, antes de invadirem a área, os milicianos fazem contatos na favela com moradores e com integrantes de baixo escalão do tráfico, como fogueteiros e olheiros. Para obter informações,
prometem mantê-los na comunidade depois da invasão, desde que não continuem no crime. Nos ataques às comunidades, as milícias utilizam armas
com silenciadores para não
chamar muito a atenção.
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