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Governo quer atrelar valor de multas ao do veículo
Tarso Genro irá propor "medidas draconianas" para reprimir motoristas infratores
Com aumento de acidentes, ministro diz que também estuda reduzir limite tolerado de álcool e criminalizar excesso de velocidade
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após divulgar aumento de
11% no número de mortos nas
rodovias federais em 2007, o
ministro Tarso Genro (Justiça)
anunciou ontem que irá propor
ao Congresso "medidas draconianas" para reprimir motoristas infratores, como a redução
do limite tolerado de álcool no
sangue, a criminalização do excesso de velocidade e multas
atreladas ao valor do veículo.
Na apresentação de seu balanço anual, a Polícia Rodoviária Federal culpou a prosperidade econômica e o desrespeito
às regras de trânsito pelo aumento de 9% no número de acidentes das estradas federais em
2007 -123 mil acidentes, nos
quais houve 6.840 mortos e
mais de 75 mil feridos.
Em 2006, o aumento da frota
de veículos foi de 6% -nos últimos sete anos esse crescimento
tem sido estável na faixa de 7%
ao ano. Para Tarso Genro, no
entanto, mais carros não são
desculpa para mais acidentes.
Ele avalia que é preciso endurecer na repressão.
Ainda assim, segundo a PRF,
2007 bateu o recorde histórico
de multas em flagrante, com
mais de 2 milhões de infrações
registradas nos 61 mil quilômetros de estradas federais, 27% a
mais que 2006.
Dessas, cerca de 600 mil foram por excesso de velocidade
captado por radares. Outros
6.128 foram motoristas embriagados flagrados pelos novos etilômetros -espécie de
bafômetro em que o motorista
não precisa assoprar.
Motoristas bêbados foram
fator contribuinte para 1,5%
dos acidentes em 2006. A causa
mais comum foi a "falta de
atenção", em 34% dos casos. Os
fatores dos acidentes de 2007
não foram divulgados neste
ano por falta de tempo para
análise e problemas com a rede
de computadores da PRF, segundo a própria polícia.
Hoje o limite de tolerância de
álcool é de 0,6 gramas por litro
de sangue -aproximadamente
uma lata de cerveja, de acordo
com o peso e o organismo da
pessoa. "Queremos reduzir isso
para 0,3 ou, quem sabe, para
até 0,1", disse o ministro. Um
grupo de trabalho foi formado
após o chamado "Natal sangrento" nas estradas para enviar um pacote ao Congresso
em fevereiro com as medidas.
Segundo o diretor-geral da
PRF, Hélio Cardoso Derenne, o
índice nacional de acidentes é
de 7,5 óbitos por ano para cada
10 mil veículos, mas a taxa considerada tolerável em países
desenvolvidos é de 2,5.
Entre as outras medidas que
estão sob estudo, segundo Genro, estão a criminalização do
excesso de velocidade e o aumento das multas conforme o
valor do veículo, para aumentar o impacto da punição.
"Estudamos multas que sejam igual ao valor do veículo,
em casos de reincidências. Em
acidentes com morte, reincidentes, podemos pensar em seqüestro e apreensão do veículo", disse. O grupo deve concluir o pacote em 20 dias.
Tarso não detalhou como encaminharia a questão da criminalização de algumas infrações, como o excesso de velocidade. Esse fator foi verificado
em 6% dos acidentes de 2006
nas rodovias federais.
O diretor-geral da PRF evitou comentar a falta de investimentos nas estradas -só metade do orçamento disponível foi
efetivamente gasto em 2007-,
mas diz esperar menos acidentes nas vias recém-pedagiadas,
pelo aumento da sinalização,
conservação e atendimento.
Cretinice
As medidas prometem polêmica. Para o engenheiro Luiz
Célio Bottura, ex-presidente da
Dersa, multar os veículos de
acordo com seu valor é uma
"cretinice". "O risco de vida não
tem preço", afirmou.
Ele concorda, porém, com a
idéia de tornar o excesso de velocidade crime e de reduzir o limite de ingestão de álcool. Entretanto, diz que na prática não
há como punir os infratores.
"Não temos onde colocar
quem cometer crime. Vão ser
colocados junto com quem cometeu crime hediondo? Há falta de infra-estrutura para guardar o culpado e julgá-lo", disse.
Já o consultor em engenharia de tráfego e transporte Horácio Augusto Figueira também considera uma "besteira"
multar o veículo de acordo com
seu valor de mercado. "Eu, se
fosse milionário, compraria um
Fusca 62", disse.
Segundo ele, é preciso investir mais na conscientização do
motorista e multar mais. "É necessário atacar as causas e não a
conseqüência."
Colaborou AFRA BALAZINA, da Reportagem
Local
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