São Paulo, sexta-feira, 04 de janeiro de 2008

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Carcereiro de Minas era servidor sem treinamento

Portador das chaves da cela incendiada onde 8 morreram asfixiados foi cedido pela Prefeitura de Rio Piracicaba para função burocrática

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
DA AGÊNCIA FOLHA

O carcereiro da cadeia pública de Rio Piracicaba (131 km de Belo Horizonte) -onde um incêndio na noite de terça deixou oito presos mortos- não recebeu treinamento para a função.
Trata-se de um servidor cedido pela prefeitura da cidade para exercer apenas atividades burocráticas. A informação foi dada à Folha pela secretária de Administração da prefeitura, Maria Inês Magalhães, e confirmada pelo prefeito da cidade, Antônio José Cota (DEM).
Expedito Ribeiro, o carcereiro de plantão na noite do incêndio e o único com as chaves para abrir a cela onde os presos estavam, não é o único servidor municipal a prestar serviços na cadeia: há mais três cedidos pelo governo municipal, um deles também carcereiro.
"São quatro servidores. Um é escrivão, outro trabalha com trânsito, emplacamento, essas coisas, e [há] os dois rapazes que colocaram como carcereiros, mas a gente nem sabia. Foram cedidos para funções burocráticas", disse a secretária.
Ela não disse onde o servidor estava na noite do acidente, mas contou que conversou com Ribeiro ontem pela manhã, quando ele disse que não tinha autorização para abrir as celas, mesmo se lá estivesse na hora do fogo. Segundo ela, ele era apenas uma espécie de guardador das chaves.
A reportagem não conseguiu contato com Ribeiro ontem.
O presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da seção mineira da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Adilson Rocha, afirmou ser comum no Estado funcionários de prefeituras cuidarem de presos.
"Isso acontece porque a Polícia Civil tem a obrigação de cuidar de preso e de fazer a investigação, mas não tem gente suficiente para isso."
O prefeito de Rio Piracicaba disse que, além de ceder os funcionários, a prefeitura firmou no ano passado, perante a Justiça, o compromisso de investir até R$ 116 mil para reformar a cadeia e ampliá-la.
O governo de Minas, por meio de sua assessoria, afirmou que fez um convênio com a Prefeitura de Rio Piracicaba para ceder funcionários para exercer funções administrativas na cadeia. Mas disse que o servidor não deveria trabalhar como carcereiro e que, se houve desvio de função, iria apurar.
Dois dias depois do incêndio, o governador Aécio Neves (PSDB) não se pronunciou pessoalmente sobre o caso. Ele deveria ter voltado ontem da Bahia, onde passou o Réveillon -o retorno não foi confirmado. Sua única manifestação foi uma nota de assessoria, em que determinava "rigor e agilidade nas investigações". (PAULO PEIXOTO e TALITA BEDINELLI)

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