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Carcereiro de Minas era servidor sem treinamento
Portador das chaves da cela incendiada onde 8 morreram asfixiados foi cedido pela Prefeitura de Rio Piracicaba para função burocrática
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
DA AGÊNCIA FOLHA
O carcereiro da cadeia pública de Rio Piracicaba (131 km de
Belo Horizonte) -onde um incêndio na noite de terça deixou
oito presos mortos- não recebeu treinamento para a função.
Trata-se de um servidor cedido pela prefeitura da cidade para exercer apenas atividades
burocráticas. A informação foi
dada à Folha pela secretária de
Administração da prefeitura,
Maria Inês Magalhães, e confirmada pelo prefeito da cidade, Antônio José Cota (DEM).
Expedito Ribeiro, o carcereiro de plantão na noite do incêndio e o único com as chaves
para abrir a cela onde os presos
estavam, não é o único servidor
municipal a prestar serviços na
cadeia: há mais três cedidos pelo governo municipal, um deles
também carcereiro.
"São quatro servidores. Um é
escrivão, outro trabalha com
trânsito, emplacamento, essas
coisas, e [há] os dois rapazes
que colocaram como carcereiros, mas a gente nem sabia. Foram cedidos para funções burocráticas", disse a secretária.
Ela não disse onde o servidor
estava na noite do acidente,
mas contou que conversou
com Ribeiro ontem pela manhã, quando ele disse que não
tinha autorização para abrir as
celas, mesmo se lá estivesse na
hora do fogo. Segundo ela, ele
era apenas uma espécie de
guardador das chaves.
A reportagem não conseguiu
contato com Ribeiro ontem.
O presidente da Comissão de
Assuntos Penitenciários da seção mineira da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil), Adilson Rocha, afirmou ser comum
no Estado funcionários de prefeituras cuidarem de presos.
"Isso acontece porque a Polícia Civil tem a obrigação de cuidar de preso e de fazer a investigação, mas não tem gente suficiente para isso."
O prefeito de Rio Piracicaba
disse que, além de ceder os funcionários, a prefeitura firmou
no ano passado, perante a Justiça, o compromisso de investir
até R$ 116 mil para reformar a
cadeia e ampliá-la.
O governo de Minas, por
meio de sua assessoria, afirmou que fez um convênio com
a Prefeitura de Rio Piracicaba
para ceder funcionários para
exercer funções administrativas na cadeia. Mas disse que o
servidor não deveria trabalhar
como carcereiro e que, se houve desvio de função, iria apurar.
Dois dias depois do incêndio,
o governador Aécio Neves
(PSDB) não se pronunciou pessoalmente sobre o caso. Ele deveria ter voltado ontem da Bahia, onde passou o Réveillon
-o retorno não foi confirmado.
Sua única manifestação foi
uma nota de assessoria, em que
determinava "rigor e agilidade
nas investigações".
(PAULO PEIXOTO e TALITA BEDINELLI)
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