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Salgueiro fala de praia e futebol em noite de exaltação ao Rio
Enredo "leve" foi a aposta para colocar a escola entre as
primeiras do Carnaval carioca; último título foi em 1993
São Clemente, primeira a
desfilar, deixa de lado
tradição de enredos críticos
para exaltar d. João com
patrocínio da prefeitura
DA SUCURSAL DO RIO
O Salgueiro levou a sério o
clichê de que Carnaval é hora
de esquecer a realidade -ou
uma parte dela. A escola tentou
animar o público do sambódromo carioca com um enredo em
que só foram exaltadas as coisas boas do Rio de Janeiro.
Com muitas referências a
samba, praia, boêmia e futebol,
os carnavalescos Renato Lage e
Márcia Lavia buscaram uma
apresentação leve para tentar
pôr a tradicional agremiação de
novo entre os primeiros lugares -seu último título foi em
1993; no ano passado, mesmo
com um bom desfile, não passou do sétimo lugar.
A alegria do Salgueiro contrastou com o início mais reverente do que irreverente da
noite. Conhecida por seus
enredos críticos, como "Quem
casa quer casa" (1985) e "Capitães de asfalto" (87), a São Clemente exaltou d. João 6º nos
200 anos da chegada do príncipe-regente português ao Brasil.
A Prefeitura do Rio deu R$ 2
milhões à escola e à Mocidade
Independente para desenvolverem enredos sobre a data sob
a condição de não falarem mal
de d. João 6º.
Antes de a agremiação de Botafogo -a única da zona sul do
Rio a fazer parte do Grupo Especial- entrar na avenida, a
exaltação ao monarca português ganhara um tom ainda
mais reverente. Possivelmente
pela primeira vez na história
dos desfiles, o hino nacional foi
tocado antes do início.
A Banda dos Fuzileiros Navais, fundada em 7 de março de
1808, exatamente quando a família real chegou ao Rio, executou o hino e também o "Cisne
Branco" (hino da Marinha)
marchando pelo sambódromo.
À frente dos 180 músicos, uma
alegoria em forma de carruagem trazia atores representando d. João e a família.
"É só colocar uma banda na
frente que o povo seguirá, seja
para a festa ou para a guerra.
Estamos aqui para a festa", disse o major André Luiz, comandante da Companhia de Bandas
do Corpo de Fuzileiros Navais.
Apesar do oficialismo do
enredo, a São Clemente se
apresentou com a alegria habitual. A comissão de frente significava o "teatro de Maria, a
Louca", e trazia o travesti Rogéria como a mãe de d. João. "Sou
a própria Maria, a Louca, maravilhosa", assumiu Rogéria.
O restante do enredo desenvolvido pelo carnavalesco Milton Cunha era mais didático,
mostrando fatos ligados à vinda
da corte portuguesa, como a
abertura dos portos, o surgimento da imprensa no país e a
criação do Jardim Botânico e
da Biblioteca Nacional.
O objetivo da São Clemente é
se manter no Grupo Especial.
Uma escola será rebaixada para
o Grupo de Acesso A. Mas o
próprio Cunha reconheceu que
o desfile foi meio morno: "O
samba não empolgou a arquibancada."
Imigração
Já o samba da Porto da Pedra, segunda a desfilar, funcionou bem mais do que se imaginava. O principal refrão caiu no gosto de parte do público, que
apoiou a apresentação leve da
agremiação de São Gonçalo.
Outro fator de empatia foi o
tema: cem anos da imigração
japonesa no Brasil. Uma ala
formada em sua quase totalidade por japoneses e descendentes foi muito aplaudida, assim
como a comissão de frente, que
representava o teatro kabuki, e
a ala dos leques, que fazia movimentos coreografados.
As duas primeiras alegorias
causaram boa impressão: "O
jardim zen do templo Kinkaku-Ji", que tinha à frente o tigre
que é símbolo da escola (transformado em torá, o tigre do horóscopo japonês), e a do navio
Kasato Maru, no qual os primeiros imigrantes chegaram.
Houve problemas com alegorias na dispersão, incluindo um
princípio de incêndio num dos
carros alegóricos.
A escola, que não conseguiu
patrocínios apesar do tema,
realizou uma apresentação
simples, mas muito eficiente, e
provavelmente ficará mais um
ano no Grupo Especial.
(LUIZ FERNANDO VIANNA, PEDRO SOARES e VINICIUS QUEIROZ GALVÃO)
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