São Paulo, quarta-feira, 04 de fevereiro de 2009

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Após tumulto, PM inicia "asfixia" em favela

Secretário da Segurança diz que não há prazo para o fim da "operação saturação" da polícia em Paraisópolis, zona oeste de SP

Polícia ainda não tem certeza sobre os motivos do protesto de anteontem, que terminou com três policiais militares feridos

LAURA CAPRIGLIONE
LUIS KAWAGUTI
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, anunciou ontem à tarde a realização de uma "operação saturação" a partir de hoje na região da favela de Paraisópolis, zona oeste de São Paulo, como forma de identificar e prender os responsáveis pelos confrontos com a polícia e depredações de veículos, ocorridos anteontem. Segundo Marzagão, a "saturação", que significa concentrar policiamento ostensivo para asfixiar o crime e, em particular, o tráfico de drogas, ficará a cargo de uma tropa especializada do Batalhão de Choque. Não está definido quanto tempo durará a operação.
Ontem, Paraisópolis era um autorama de carros da polícia -nada menos do que 124 trafegavam por lá. A bordo, 330 homens que só deixavam os veículos para revistar carros e moradores. Não se viam soldados a pé, apesar de os moradores ocuparem as ruas e o comércio funcionar normalmente.
A partir de hoje, as forças policiais serão reduzidas para 293 homens e 70 veículos, mas entrarão em cena os cavalos (20) e os cães farejadores (4) do Batalhão de Choque. Os animais visam à melhoria da movimentação dos policiais pelas vielas estreitas da favela.
Vinte e quatro horas depois do início dos enfrentamentos em Paraisópolis, a polícia ainda não crava uma hipótese para explicar o que levou grupos de moradores a atear fogo em carros, depredar casas e comércio, atirar em soldados e montar barricadas em vários pontos da favela. Agiram ou não a mando da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital)?, perguntou-se. "Ainda não se sabe", foi a resposta da Secretaria da Segurança Pública.
Um homem que se apresentava aos jornalistas como representante "do partido", referindo-se ao PCC, procurava a todo momento eximir os criminosos da responsabilidade pelos confrontos. Seu argumento: para o "partido" não interessaria afrontar a polícia e provocar a ocupação militar da favela, que seria um entreposto de drogas na cidade.
Para provar a relevância do narcotráfico na economia de Paraisópolis, o "representante" lembrou a apreensão, em novembro de 2008, nas ruas da favela, de 8,5 toneladas de maconha, que estavam em um caminhão tombado.
Esse homem disse à reportagem que o PCC distribuiria "madeiradas" na cabeça dos baderneiros para ensiná-los a não atrapalhar os negócios.
Apesar da negativa do "representante", a Folha apurou que a polícia investiga a hipótese de que o quebra-quebra de anteontem tenha o dedo do detento Francisco Antonio Cesário da Silva, 32, conhecido por "Piauí". Ele, que é suspeito de chefiar o tráfico e ser o braço-direito do PCC na favela, foi preso em agosto de 2008.
No domingo passado, a mesma ação policial que resultou na morte de Marcos Porcino, 25, também prendeu Antonio Galdino de Oliveira, 24, que vem a ser cunhado de "Piauí". Essa operação policial foi apontada por vários envolvidos nos confrontos como o estopim da baderna.
Galdino trabalha na panificadora "Empório das Delícias", na qual a gerente é Francisca Cesário da Silva, de 35 anos, irmã de "Piauí".
Segundo Francisca, a polícia forjou o flagrante por porte ilegal de armas contra seu companheiro. O motivo: ele teria presenciado a execução sumária de Marcos Porcino, por um soldado PM. Ela disse que hoje levará dezenas de testemunhas à Corregedoria da Polícia Militar para depor em defesa de Galdino. A Polícia Civil disse que investigará a denúncia.
Os três PMs feridos a bala nos confrontos devem passar hoje por cirurgia no Hospital da Polícia Militar. Eles não correm risco de morte. Ontem à noite, não havia nenhum preso acusado de participação nos confrontos de anteontem.


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