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Após tumulto, PM inicia "asfixia" em favela
Secretário da Segurança diz que não há prazo para o fim da "operação saturação" da polícia em Paraisópolis, zona oeste de SP
Polícia ainda não tem certeza sobre os motivos do protesto de anteontem, que terminou com três policiais militares feridos
LAURA CAPRIGLIONE
LUIS KAWAGUTI
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
O secretário da Segurança
Pública, Ronaldo Marzagão,
anunciou ontem à tarde a realização de uma "operação saturação" a partir de hoje na região
da favela de Paraisópolis, zona
oeste de São Paulo, como forma
de identificar e prender os responsáveis pelos confrontos
com a polícia e depredações de
veículos, ocorridos anteontem.
Segundo Marzagão, a "saturação", que significa concentrar
policiamento ostensivo para
asfixiar o crime e, em particular, o tráfico de drogas, ficará a
cargo de uma tropa especializada do Batalhão de Choque. Não
está definido quanto tempo durará a operação.
Ontem, Paraisópolis era um
autorama de carros da polícia
-nada menos do que 124 trafegavam por lá. A bordo, 330 homens que só deixavam os veículos para revistar carros e moradores. Não se viam soldados a
pé, apesar de os moradores
ocuparem as ruas e o comércio
funcionar normalmente.
A partir de hoje, as forças policiais serão reduzidas para 293
homens e 70 veículos, mas entrarão em cena os cavalos (20) e
os cães farejadores (4) do Batalhão de Choque. Os animais visam à melhoria da movimentação dos policiais pelas vielas estreitas da favela.
Vinte e quatro horas depois
do início dos enfrentamentos
em Paraisópolis, a polícia ainda
não crava uma hipótese para
explicar o que levou grupos de
moradores a atear fogo em carros, depredar casas e comércio,
atirar em soldados e montar
barricadas em vários pontos da
favela. Agiram ou não a mando
da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital)?,
perguntou-se. "Ainda não se
sabe", foi a resposta da Secretaria da Segurança Pública.
Um homem que se apresentava aos jornalistas como representante "do partido", referindo-se ao PCC, procurava a
todo momento eximir os criminosos da responsabilidade pelos confrontos. Seu argumento:
para o "partido" não interessaria afrontar a polícia e provocar
a ocupação militar da favela,
que seria um entreposto de
drogas na cidade.
Para provar a relevância do
narcotráfico na economia de
Paraisópolis, o "representante"
lembrou a apreensão, em novembro de 2008, nas ruas da favela, de 8,5 toneladas de maconha, que estavam em um caminhão tombado.
Esse homem disse à reportagem que o PCC distribuiria
"madeiradas" na cabeça dos baderneiros para ensiná-los a não
atrapalhar os negócios.
Apesar da negativa do "representante", a Folha apurou
que a polícia investiga a hipótese de que o quebra-quebra de
anteontem tenha o dedo do detento Francisco Antonio Cesário da Silva, 32, conhecido por
"Piauí". Ele, que é suspeito de
chefiar o tráfico e ser o braço-direito do PCC na favela, foi
preso em agosto de 2008.
No domingo passado, a mesma ação policial que resultou
na morte de Marcos Porcino,
25, também prendeu Antonio
Galdino de Oliveira, 24, que
vem a ser cunhado de "Piauí".
Essa operação policial foi
apontada por vários envolvidos
nos confrontos como o estopim da baderna.
Galdino trabalha na panificadora "Empório das Delícias",
na qual a gerente é Francisca
Cesário da Silva, de 35 anos, irmã de "Piauí".
Segundo Francisca, a polícia
forjou o flagrante por porte ilegal de armas contra seu companheiro. O motivo: ele teria presenciado a execução sumária
de Marcos Porcino, por um soldado PM. Ela disse que hoje levará dezenas de testemunhas à
Corregedoria da Polícia Militar
para depor em defesa de Galdino. A Polícia Civil disse que investigará a denúncia.
Os três PMs feridos a bala
nos confrontos devem passar
hoje por cirurgia no Hospital
da Polícia Militar. Eles não correm risco de morte. Ontem à
noite, não havia nenhum preso
acusado de participação nos
confrontos de anteontem.
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