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Teste para tratar rio Pinheiros vai atrasar
Experimentos com tratamento por flotação deveriam acabar em fevereiro, mas se estenderão até agosto, segundo a Promotoria
Controversa, tecnologia forma flocos de poluição, que são depois removidos; custo para aplicar o método no rio Pinheiros é de R$ 350 milhões
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
Vai demorar pelo menos
mais seis meses para saber se o
sonho de ver as águas do rio Pinheiros mais claras tem futuro.
O teste do controverso sistema
de flotação, previsto para se encerrar no final de fevereiro a
um custo de R$ 23 milhões, durará pelo menos até agosto.
A informação é do Ministério
Público do Estado de São Paulo. Se tudo der certo, o sonho fica para 2012 ou 2013.
O atraso ocorreu por problemas operacionais nos testes,
que começaram em setembro.
Chuvas intensas e acúmulo de
lixo danificaram equipamentos
e fizeram o processo ser interrompido em várias ocasiões
-os testes são necessários para
fazer o estudo de impacto ambiental exigido para aplicar o
tratamento por flotação em todo o rio.
A novela da flotação no Pinheiros já dura quase uma década. Trata-se de tecnologia
comprovada para clarear águas
-por exemplo de mineração,
ou mesmo esgotos. É usada
desde 1998 no pré-tratamento
do rio Tâmisa, em Londres, antes da filtração.
Em São Paulo, já é empregada, por exemplo, nos parques
da Aclimação e Ibirapuera.
Nada se compara, porém, ao
projeto do Pinheiros, com custo estimado em R$ 350 milhões. Primeiro, pela quantidade de água: 50 metros cúbicos
por segundo -uma piscina de 5
m de cada lado por 2 m de profundidade, ou 50 mil litros.
Segundo, porque uma flotação desse porte nunca foi tentada, no mundo, num sistema em
fluxo. Ou seja, direto num curso d'água, sem o ambiente controlado de tanques.
Não é muito diferente do
processo de floculação, para
limpar piscinas (veja quadro).
Produtos químicos reúnem a
sujeira (partículas sólidas em
suspensão) na forma de flocos,
que são forçados para cima com
a ajuda de microbolhas de ar.
Uma espécie de lodo se forma na superfície, e não no fundo, como numa piscina. Seria
complicado aspirar o fundo de
um rio. Mais prático é separá-lo
-como a nata do leite- com
rodas coletoras, para ser depois
tornado inerte com cal (que
mata microorganismos).
Na prática, é mais fácil falar
que fazer. A flotação encontrou
resistência, desde que surgiu,
por causa de dúvidas sobre sua
capacidade de despoluição. Afinal, suas águas, após flotadas,
irão para a represa Billings.
O reservatório é cada vez
mais importante para a região
metropolitana, que não tem
mais onde buscar água. O sistema Cantareira, ao norte, supre
metade da população, mas já
sofre os efeitos da expansão urbana de Mairiporã. A bacia que
o alimenta tem só 20% de cobertura florestal (que funciona
como uma esponja, evitando
escorrimento das águas).
Em alguns anos ou décadas, o
sistema Cantareira poderá estar poluído por esgotos, como
ocorre hoje com a Guarapiranga. Essa represa, junto à Billings, recebe parte de sua água
do braço Taquaquecetuba da
vizinha. Se a flotação piorar a
qualidade da Billings, acabará
afetando a Guarapiranga.
Com limitações para esses
três mananciais mais importantes, que ainda sofrerão a
pressão urbanizadora do futuro Rodoanel, restaria a São
Paulo buscar água em bacias
mais distantes, como o Ribeira
de Iguape (sul do Estado). Só as
grandes empreiteiras considerariam racional ir tão longe.
A Billings não foi criada para
fornecer água potável, mas sim
eletricidade. Projetada a partir
da década de 1920, suas águas
serviram até 1989 para movimentar as turbinas da usina hidrelétrica Henry Borden (Cubatão), após despencar 720 m
em tubulações na serra do Mar.
Para isso, o Pinheiros precisava ter seu curso invertido. A
água, em vez de seguir da serra
para o Tietê, era bombeada no
sentido contrário. A Constituição estadual proibiu a inversão
do rio em 1989. Interrompeu-se com isso o lançamento na Billings das águas poluídas do Pinheiros, dos córregos que o alimentam e do próprio Tietê. A
única exceção são chuvas torrenciais, quando se faz a inversão para controlar enchentes.
A flotação, para os engenheiros da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia),
permitiria aproveitar melhor a
Henry Borden. Com o acréscimo de 50 m3/s, a usina passaria
a gerar cerca de 400 megawatts
-o suficiente para 1,5 milhão
de casas, o que ajudaria a pagar
a conta da flotação.
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