São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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Fenômeno cria "geração perdida"

DA REPORTAGEM LOCAL

A análise da evolução, ao longo do tempo, dos casos de roubo no trânsito e das taxas de desemprego mostra um efeito "inercial" do crime. Ou seja: muitos dos que optam ou são empurrados para a criminalidade acabam nela permanecendo mesmo quando as condições adversas já cessaram ou diminuíram razoavelmente.
O efeito residual da marginalidade cria, aos poucos, uma geração perdida -que não deixará o crime mesmo que se estanquem imediatamente o desemprego e a deterioração nos níveis de renda, dizem os cinco pesquisadores do Uniemp, ligado à Unicamp.
A permanência na marginalidade teria raízes nos ganhos auferidos com as ações criminosas e no grau de envolvimento com o crime, atividade na qual muitas dessas pessoas -em algum momento da vida- encontraram a única forma de subsistência.
No Estado de São Paulo o estoque mais visível dessa geração tem proporções assustadoras: já são mais de 125 mil pessoas nas cadeias -um aumento de 127% em dez anos. Jovens, a maioria delas está presa por roubo. Ou seja: o crime mais associado ao desemprego surge exatamente como a porta de entrada para o universo da criminalidade.
O Estado usa o enorme número de capturados para sustentar o sucesso da ação policial e frisar uma falta de relação direta entre o melhor policiamento e a queda da criminalidade. Mas a quantidade de presos, dizem estudiosos de segurança, não necessariamente reflete eficiência da força estatal.
"É preciso saber quem se está prendendo. São os mais perigosos? Os causadores dos maiores danos sociais? Ninguém sabe. Não há estudo sobre esse perfil. O que sabemos é que a taxa de esclarecimento dos crimes segue baixa, o que sugere que não se está prendendo exatamente quem responde pelos delitos", avalia Nancy Cardia, do Núcleo de Estudos da Violência da USP. (SC)


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