São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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CARTÃO-POSTAL

Funcionários de pontos turísticos, como o Corcovado e o Pão de Açúcar, aproveitam para apreciar a cidade

Vista privilegiada do Rio compensa trabalho

FELIPE VARANDA
REPÓRTER FOTOGRÁFICO

Poucas pessoas têm a chance de trabalhar onde milhares de turistas se deslumbram quando estão de férias. Obter o ganha-pão num cartão-postal da Cidade Maravilhosa é privilégio capaz de deixar alguém, carioca da gema ou não, a um passo da vida sonhada.
Que o diga Edmilson Marcolino, 39, encarregado da manutenção dos trilhos do trem que leva os turistas ao Cristo Redentor. Pernambucano de Lagoa Grande, via fotografias do Rio e tinha vontade de conhecer a cidade, mas nunca imaginou que um dia moraria num dos postais da sua infância.
Há dez anos ele foi contratado pela firma que opera o trem e se mudou com mulher e dois filhos para uma casa encravada na Mata Atlântica, a poucos metros dos trilhos. Marcolino não perde o hábito de dar uma espiada no alto do Corcovado pelas manhãs.
""É para ver se o Cristo não fugiu", brinca ele, que, antes de o primeiro turista chegar, sobe as escadas levando a garrafa térmica para beber um cafezinho na "companhia do Senhor".
Se Marcolino acorda ao lado do Cristo, Célio Rodrigues, 43, e Antônio Carlos Muniz, 50, não podem dormir à noite, mas em compensação pernoitam há três anos no topo do Pão de Açúcar.
A paz da dupla de vigias só é perturbada, ocasionalmente, pelos alpinistas, que aproveitam a iluminação da montanha para fazer escaladas noturnas.
Rodrigues é um funcionário veterano em cartões postais -já trabalhou no estádio do Maracanã e nas barcas Rio-Niterói.
""Mas nada supera a vista noturna do Rio durante o plantão. A cidade fica parecendo uma árvore de natal", diz o felizardo.
Com hábitos mais exóticos, Paulo César de Aguiar, o PC, 48, também desfruta de uma bela vista no horário comercial: ele trabalha na ponte Rio-Niterói, onde supervisiona a manutenção do caixão metálico, uma estrutura sob o trecho mais alto da pista e que forma um túnel de 848 metros de comprimento.
Além das suas funções técnicas, PC é trompetista da banda Paul Bossa, que se apresenta em bailes para idosos, festas em clubes e restaurantes de Niterói (cidade a 15 km do Rio).
Sua grande descoberta foi a maravilha acústica que é o caixão metálico. ""A acústica é perfeita. O som reverbera como nunca ouvi em outro lugar", diz o fã de Dizzie Gillespie (1917-1993), trompetista americano que inspira seus solos na hora do almoço, quando toca a trilha sonora para os outros operários e para as gaivotas que dão rasantes ao lado, sobre a baía da Guanabara.


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