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CARTÃO-POSTAL
Funcionários de pontos turísticos, como o Corcovado e o Pão de Açúcar, aproveitam para apreciar a cidade
Vista privilegiada do Rio compensa trabalho
FELIPE VARANDA
REPÓRTER FOTOGRÁFICO
Poucas pessoas têm a chance de
trabalhar onde milhares de turistas se deslumbram quando estão
de férias. Obter o ganha-pão num
cartão-postal da Cidade Maravilhosa é privilégio capaz de deixar
alguém, carioca da gema ou não, a
um passo da vida sonhada.
Que o diga Edmilson Marcolino, 39, encarregado da manutenção dos trilhos do trem que leva os
turistas ao Cristo Redentor. Pernambucano de Lagoa Grande, via
fotografias do Rio e tinha vontade
de conhecer a cidade, mas nunca
imaginou que um dia moraria
num dos postais da sua infância.
Há dez anos ele foi contratado
pela firma que opera o trem e se
mudou com mulher e dois filhos
para uma casa encravada na Mata
Atlântica, a poucos metros dos
trilhos. Marcolino não perde o hábito de dar uma espiada no alto
do Corcovado pelas manhãs.
""É para ver se o Cristo não fugiu", brinca ele, que, antes de o
primeiro turista chegar, sobe as
escadas levando a garrafa térmica
para beber um cafezinho na
"companhia do Senhor".
Se Marcolino acorda ao lado do
Cristo, Célio Rodrigues, 43, e Antônio Carlos Muniz, 50, não podem dormir à noite, mas em compensação pernoitam há três anos
no topo do Pão de Açúcar.
A paz da dupla de vigias só é
perturbada, ocasionalmente, pelos alpinistas, que aproveitam a
iluminação da montanha para fazer escaladas noturnas.
Rodrigues é um funcionário veterano em cartões postais -já
trabalhou no estádio do Maracanã e nas barcas Rio-Niterói.
""Mas nada supera a vista noturna do Rio durante o plantão. A cidade fica parecendo uma árvore
de natal", diz o felizardo.
Com hábitos mais exóticos,
Paulo César de Aguiar, o PC, 48,
também desfruta de uma bela vista no horário comercial: ele trabalha na ponte Rio-Niterói, onde supervisiona a manutenção do caixão metálico, uma estrutura sob o
trecho mais alto da pista e que forma um túnel de 848 metros de
comprimento.
Além das suas funções técnicas,
PC é trompetista da banda Paul
Bossa, que se apresenta em bailes
para idosos, festas em clubes e
restaurantes de Niterói (cidade a
15 km do Rio).
Sua grande descoberta foi a maravilha acústica que é o caixão
metálico. ""A acústica é perfeita. O
som reverbera como nunca ouvi
em outro lugar", diz o fã de Dizzie
Gillespie (1917-1993), trompetista
americano que inspira seus solos
na hora do almoço, quando toca a
trilha sonora para os outros operários e para as gaivotas que dão
rasantes ao lado, sobre a baía da
Guanabara.
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