São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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SAÚDE

Método desenvolvido pelo Hospital do Câncer consegue diferenciar tumores benignos e malignos em casos imprecisos

Teste elimina cirurgia inútil da tireóide

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um novo método de diagnóstico do câncer da tireóide poderá eliminar a realização de cirurgias desnecessárias para a retirada da glândula, responsável pela produção de hormônios que atuam em todo o organismo.
Hoje, 30% das biopsias feitas em nódulos suspeitos de câncer não permitem concluir o diagnóstico com precisão porque não existe um meio seguro para afastar a possibilidade de que alguns nódulos sejam malignos. Nesses casos, por precaução, muitos médicos extirpam parte ou toda a glândula tireóide (tireoidectomia).
Uma pesquisa inédita do Hospital do Câncer de São Paulo e do Instituto Ludwig, realizada nos últimos três anos em parceria com outras nove instituições -oito brasileiras e uma peruana-, desenvolveu um teste genético que possibilita saber, com 100% de precisão, quais tumores são cancerígenos e, portanto, têm indicação cirúrgica obrigatória e imediata.
Nos últimos três anos, os pesquisadores coletaram informações de 800 casos de pessoas que se submeteram à tireoidectomia devido a doenças benignas, câncer ou casos suspeitos sem confirmação. A cirurgia foi necessária para esclarecer o diagnóstico.
A conclusão sobre os casos suspeitos confirma dados disponíveis em todo o mundo e impressionam: de 70% a 80% das cirurgias foram desnecessárias, ou seja, não existia câncer.
Além dos riscos naturais de uma cirurgia, a pessoa que tem a tireóide retirada pode precisar fazer a reposição dos hormônios tireoidianos para o resto da vida, além de sofrer riscos de ter alteração na fala (rouquidão) e queda de cálcio na corrente sangüínea.
Segundo o oncologista Luiz Paulo Kowalski, chefe do departamento de cirurgia de cabeça e pescoço do Hospital do Câncer, o teste não substituirá a punção- que consiste em introduzir uma agulha no nódulo e extrair amostras de células-, mas vai complementá-la nos casos em que o resultado não for conclusivo.
No próximo semestre, a pesquisa entra na última etapa, o acompanhamento dos pacientes. Após a conclusão dessa fase, o método deverá passar a ser aplicado na clínica, diz Kowalski.
O problema ainda será o custo do teste, cerca de US$ 250. Segundo Kowalski, a tendência é que o exame, assim como outros testes diagnósticos, seja barateado com o passar do tempo. Ainda assim, afirma o médico, o custo será menor do que se gasta hoje com as cirurgias que podem ser evitadas.
Nos últimos 20 anos, o câncer da tireóide quadruplicou em São Paulo entre as mulheres. A incidência passou de 4 para 17 casos por grupo de 100 mil, segundo o registro de câncer do município, ligado à Faculdade de Saúde Pública da USP. Entre os homens, passou de 2 para 4 por 100 mil.
O aumento dos casos é atribuído à melhoria do diagnóstico, segundo Valéria Guimarães, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
A boa notícia é que a taxa de mortalidade decresceu nesse período, passando de 0,8 para 0,5 por 100 mil, entre as mulheres, e de 0,5 para 0,2 entre os homens.
Além dos modernos exames de imagens, que permitem identificar nódulos de 1 mm, médicos de várias especialidades (como ginecologistas e cardiologistas) têm feito a avaliação da tireóide.


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