São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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ENTREVISTA

Evento em SP quer transformar caminhada em "saúde pública"

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos 10 mil pessoas são aguardadas às 9h30 de hoje, na avenida Paulista, região central de São Paulo, para uma caminhada do programa Agita Mundo, que celebra o Dia Mundial da Saúde.
É apenas uma parte do movimento: cerca de 150 países e milhares de cidades já confirmaram a participação nesse projeto, que começou em São Caetano do Sul (Grande São Paulo) e foi adotado pela Organização Mundial da Saúde. Neste ano, até o Nepal participará da "maratona" mundial.
O projeto Agita Mundo, que começou como Agita São Paulo e que tem a parceria da Secretaria de Estado da Juventude, Esporte e Lazer, tem como objetivo dar outra visão a uma série de preceitos que continuam sendo encarados como corporativismo de médicos e academias.
"Estudo do qual participaram 10 mil pesquisadores do mundo todo demonstrou que 30 minutos diários de qualquer atividade física, mesmo divididos em períodos de dez minutos, reduzem os riscos de diabetes, hipertensão, obesidade, colesterol, osteoporose e problemas mentais, como depressão, ansiedade e insônia", diz o médico Vitor Matsudo, 55, coordenador do Agita Mundo.
O Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (Celafiscs), onde nasceu o projeto do Agita São Paulo, está preparando também uma série de exercícios e cartilhas para pessoas com necessidades especiais.
O professor Timóteo Leandro de Araújo, do Celafiscs, disse que centenas de pessoas portadoras de necessidades especiais participarão da caminhada de hoje, prevista para terminar junto à Assembléia Legislativa.
A caminhada, além de ocorrer em outros países, vai se repetir em centenas de cidades. Em São Paulo, no próximo dia 6, no Ginásio do Ibirapuera, acontece a 1ª Mostra de Boas Práticas em Promoção da Atividade Física.
Abaixo, trechos da entrevista com o médico Victor Matsudo.

 

Folha - O que há de novo, hoje, no conceito de atividade física?
Victor Matsudo
- Até os anos 80, acreditava-se que só os exercícios intensos traziam benefícios. Nos anos 90, predominou o fitness, exercício que consome até 70% da capacidade de respirar e que é repetido de duas a três vezes por semana. Depois veio o que defendemos, uma espécie de guerrilha aeróbica, pois permite a qualquer pessoa deixar de ser sedentária sem ser atleta. Nós defendemos a cidadania ativa, que pode ser praticada ao levarmos o cachorro para passear, caminhando na quadra ou cortando a grama. Nada disso exige exames médicos nem academias.

Folha - Estes novos conceitos começaram onde e com quem?
Matsudo
- Com o médico Russel Page e toda uma equipe que conseguiu publicar no Jama (jornal da associação médica americana) estudos mostrando que 30 minutos de atividades físicas, não de esportes, cinco dias por semana, já traziam grande vantagem para a saúde, em qualquer idade.

Folha - Há pesquisas mostrando que, com os novos conceitos, mais gente vem aderindo às várias atividade física?
Matsudo
- Há inúmeras pesquisas, no Brasil e lá fora. Na média, no início dos anos 90, cerca de 80% dos homens e 70% das mulheres eram sedentários. Hoje, cerca de 55% das pessoas, entre homens e mulheres, são ativas.

Folha - Há novos conceitos que, na sua opinião, ainda estão por surgir para o público em geral?
Matsudo
- Há sim, e eles têm a ver mais com a saúde pública que com a estética. Não somos contrários à atividade física "tipo Jardins", eu também atendo no consultório pessoas com essas expectativas e em condições de pagar por exames e por academias. Mas o grande público precisa saber que pode movimentar-se em todas as atividades do cotidiano e que isso é fundamental para a saúde. Um conceito novo é o número de passos que a pessoa dá por dia. Se você der 10 mil passos, já estará contribuindo para a saúde. Então fica mais fácil ir contanto e descontando. Por exemplo, ir até a padaria da esquina e voltar podem ser 2.000 passos.


A caminhada de hoje sai às 9h30, diante do prédio do Masp, na Paulista


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