|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RESPONSABILIDADE SANITÁRIA
Projeto do Ministério da Saúde estabelece prazos para que Estados e municípios cumpram metas
Saúde quer punição para falta de gastos
LEILA SUWWAN
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal, o governo federal
planeja enquadrar Estados e municípios com punições financeiras, políticas e administrativas pelo descumprimento de metas e de
aplicação de verbas pactuadas na
área da saúde.
A chamada Lei de Responsabilidade Sanitária está sendo finalizada no Ministério da Saúde e será
enviada em breve ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Depois
de aprovado o texto, ele será encaminhado ao Congresso. O texto
deixará claro os deveres de cada
esfera do governo e criará mecanismos de cobrança judiciais.
Cada nível de governo terá planos de saúde com metas definidas, recursos a serem investidos e
prazo para cumprimento. Esses
planos seriam aprovados nas comissões tripartites, com representantes dos governos (União, Estados e municípios), prestadores de
serviço e usuários do SUS.
Hoje existem programas na
área da saúde, que, caso não sejam cumpridos, acabam no jogo
de empurra-empurra político.
Exemplo recente é o da cidade
do Rio de Janeiro, onde, por falta
de acordo, o governo decretou estado de calamidade pública em
hospitais, gerando um embate
político com o prefeito César
Maia, presidenciável pelo PFL.
No Distrito Federal, onde a saúde vinha apresentando problemas desde 2001, o governo local
está cumprindo, por determinação da Justiça, um termo de ajuste
de conduta para regularizar o
atendimento na rede pública.
A proposta da lei é a nova prioridade do ministro Humberto
Costa, que admite abertamente:
"Nunca houve monitoramento.
Não há punição ou constrangimento para quem não cumpre os
acordos. As sanções sempre recaem sobre a população", disse o
ministro, ele próprio tentando
blindar sua pasta de críticas.
O único controle em vigor são
as auditorias do SUS (Sistema
Único de Saúde), restritas à verificação posterior das aplicações financeiras e, na maior parte das
vezes, com base em denúncias.
Não há instrumentos específicos
para sanar programas de saúde
que não funcionam. Nem sempre
há como punir irregularidades.
"Vamos ter agora monitoramento, avaliação e auditoria", disse o ministro. Com isso, o governo federal assumirá um papel
mais fiscalizador das verbas que
repassa aos Estados e municípios,
a maioria de fundo a fundo e sem
muito controle na ponta.
Irregularidades
O mau uso de recursos federais
para a saúde é um dos campeões
de irregularidades detectadas pela
CGU (Controladoria Geral da
União) nas auditorias em municípios sorteados desde 2003.
O rigor também chegará aos
hospitais, clínicas e prestadores
de serviços ao SUS. Todos os contratos terão de ser profissionalizados, com metas de atendimento
definidas e penalidades por descumprimento.
Ainda não está definido se será
criado o instrumento de "intervenção administrativa". Porém,
um dos mecanismos previstos no
projeto é a "gestão compartilhada", que permitiria o governo federal ou estadual a entrar em
campo onde há colapso da saúde
pública, mas sempre com autorização da Justiça.
No caso atual do Rio, a Presidência decretou estado de calamidade pública, com requisição de
bens. "Não queremos tornar isso
uma regra. É, na verdade, excepcional", disse o ministro.
Nos casos menos graves, como
incapacidade operacional em um
município, seriam feitos "termos
de ajuste de conduta".
O ministério ou o Estado entrariam com reforço técnico ou financeiro, e os gestores municipais
teriam tempo para se enquadrar.
Entre um caso e outro estão previstas diversas sanções: multas,
processos administrativos, tomadas de conta e suspensão de direitos políticos do administrador
público responsável.
Por exemplo, o hospital que não
prestar o serviço previsto poderá
ter multa proporcional ao faturamento. Em casos de reincidência
ou fraude, há rompimento do
contrato, multa e processo de improbidade administrativa.
As penalidades políticas podem
ser aplicadas aos governantes que
não realizarem os investimentos
mínimos previstos em lei no setor
de saúde. O ministério também
quer que os tribunais de contas
estaduais passem a fiscalizar a
aplicação das verbas federais na
ponta, para evitar os desvios.
Texto Anterior: Justiça: Ação na Febem é relevante, diz juiz do TJ Próximo Texto: Lazer na avenida: Pesquisa avalia Domingo na Paulista Índice
|