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análise
Depois de errar, Lula quer mudar história
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de cometer um erro crasso, ao quebrar a hierarquia militar e gerar uma
crise com a Aeronáutica que
ameaçou se espalhar para
outras Forças, o governo
Luiz Inácio Lula da Silva agora tenta mudar a história.
A tortuosa versão para os
fatos de sexta-feira passada
dada pelo ministro Paulo
Bernardo (Planejamento),
ungido negociador pelo Planalto, é ilustrativa da confiabilidade do governo como
parte negociadora.
Em nota distribuída perto
da meia-noite de sexta, Bernardo e a secretária-executiva da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), Erenice
Guerra, diziam o seguinte,
no item 1:
"O governo federal vai fazer revisão dos atos disciplinares militares tais como
transferências, afastamentos e outros, envolvendo representantes de associações
de controladores de tráfego
aéreo ocorridos nos últimos
seis meses, assim como assegura que não serão praticadas punições em decorrência
da manifestação ocorrida no
dia de hoje (30)."
O que disse ontem Bernardo? Que só "assegurou" que
os amotinados não iriam para a cadeia imediatamente.
Não é o que está no papel,
queira ou não Bernardo.
Mais: então por que a Força
Aérea Brasileira, revoltada
com a insubordinação incentivada pelo Planalto, divulgou nota no dia seguinte entregando o espaço aéreo ao
controle civil - "à decorrência do acordo estabelecido
pelo governo"?
O que aconteceu, na seqüência, foi o óbvio: Lula voltou ao Brasil e viu o estrago
que havia provocado por
seus impulsos sindicalistas.
Primeiro, recebeu os relatos
da reação da Aeronáutica e
dos temores de contaminação da crise.
Segundo, recebeu o xeque-mate: o Ministério Público
Militar, bem afinado com a
FAB neste caso, abriu os previsíveis Inquéritos Policiais
Militares sobre aquilo que o
ministro Celso de Mello (do
Supremo Tribunal Federal)
considerou "um crime".
Frente ao óbvio -a constatação de que não poderia influir numa investigação teoricamente independente- e
com a pressão, Lula compôs.
Agora, com a cúpula das Forças Armadas.
E, com a mesma índole ligeira da sexta, o governo
rompeu o que havia acertado. Tal idoneidade contratual é exposta numa frase de
Bernardo ontem: "Na sexta-feira, tivemos uma situação
completamente atípica e claramente fora de controle.
Fui pra lá com o objetivo de
garantir um espírito mais
tranqüilizado, vamos dizer
assim, garantir que as coisas
se acalmassem e que o tráfego aéreo fosse retomado".
Ou seja, o governo afirma
que enrolou os amotinados
por um bem maior, uma "raison d'État". Seria mais honesto e condizente com seu
estilo dizer que cede a quem
grita mais alto.
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