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Para operadores, Lula traiu categoria
Controladores de vôo no DF atacaram endurecimento na posição do presidente e recuo do acordo
Eles chegaram a articular uma nova paralisação, evitada por intervenção da Aeronáutica; Páscoa não deverá ter novos protestos
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Paralelamente à negociação
com o governo, os controladores do Cindacta-1 classificaram
o endurecimento do presidente
Lula como "traição" e chegaram a articular um novo motim, que foi impedido por intervenção direta da Aeronáutica.
Não haverá paralisação na Páscoa, afirmam, contanto que não
ocorram punições.
O dia começou tenso, com a
presença da Polícia da Aeronáutica na porta de acesso às
salas de controle no Cindacta-1.
Em seguida souberam da condenação presidencial ao movimento, da abertura de IPMs
(Inquérito Policial Militar) e do
recuo do governo a respeito do
acordo de não-punição.
Ainda havia expectativa de
que o discurso do governo seria
só uma manobra para apaziguar os militares, mas a falta de
resultados concretos da reunião com o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) revoltou
e frustrou os controladores.
Ao meio-dia, souberam que a
reunião teria sido interrompida e que os pontos objetivos
não teriam sido tratados.
Um dos negociadores, sargento Moisés Almeida, confirmou à Folha que o ministro
declarou que "o governo não
negocia com faca no pescoço" e
que a categoria pediu de volta
um rápido encaminhamento
da desvinculação da Aeronáutica. Não teriam, segundo ele,
solicitado a gratificação para
não "amesquinhar" o diálogo.
No meio da tarde, um grupo
de 70 controladores (são cerca
de 200 em Brasília) realizou
uma reunião em dois locais para discutir uma nova paralisação, mas desistiram.
Chegaram a discutir que,
desta vez, não fariam um motim, simplesmente não iriam
mais trabalhar. Se decidissem
não trabalhar, avaliam que poderiam ser presos em suas casas, mas não obrigados a assumir o trabalho.
Um brigadeiro da Aeronáutica compareceu ao encontro e
aceitou quatro reivindicações
para evitar uma nova crise: 1.
retirada da Polícia Aeronáutica, 2. o retorno à chefia das
operações de um oficial moderador, 3. médico de plantão na
sala de controle, e 4. oferta de
refeição nos finais de semana.
O oficial requisitado assumiria o quarto posto hierárquico
do Cindacta-1 e atuaria como
mediador entre os sargentos e
altos oficiais da chefia.
Pressões
Na sexta, dia do motim, várias pressões se acumularam
para transformar o que seria
uma greve de fome e auto-aquartelamento em uma greve.
O primeiro foi a ameaça do
coronel Carlos Vuyk de Aquino, comandante do Cindacta-1,
de que o regimento militar seria aplicado, ao final de uma
reunião convocada por ele com
os controladores que já se acumulavam no centro.
Deixados para "pensar" sobre isso, a pequena assembléia
avaliou que já estavam enquadrados por crime militar e seria
melhor parar os trabalhos.
Ajudou nesse sentido as declarações do ministro Waldir
Pires (Defesa), ouvidas pela TV
da sala de descanso, de que o
protesto anunciado e em curso
não era relevante ou motivo de
preocupação. Às 18h40, paralisaram as atividades.
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