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De volta ao terremoto
Moradores retirados de área onde houve tremor voltam para local condenado por não se adaptarem à vida urbana em conjunto habitacional construído para eles
Emmanuel Pinheiro/Folha Imagem
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Regiane Mota e sua família; ela insiste
emviver em área condenada pela Prefeitura de Itacarambi (MG)
FELIPE BÄCHTOLD
DA AGÊNCIA FOLHA
EMMANUEL PINHEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM
ITACARAMBI (MG)
Por medo, a família de Marcilia Lima, 49, costuma colocar
colchões no quintal de casa à
noite e dormir ao ar livre.
Moradores da vila de Caraíbas (norte de MG), eles sofreram os efeitos do primeiro terremoto a provocar uma morte
no país. Em dezembro de 2007,
um tremor de 4,9 graus na escala Richter matou uma criança
de seis anos, feriu outras seis
pessoas e destruiu casas da localidade, que fica sobre uma falha geológica.
O trauma da tragédia ficou. O
receio da família é que a estrutura da casa desabe enquanto
dormem com algum novo tremor. Assim como outras 75 famílias, eles foram obrigados a
abandonar a área, considerada
condenada pela prefeitura e pelo Estado. Mas agora antigos
moradores estão retornando
clandestinamente ao local.
A justificativa é uma só: a necessidade de trabalhar no campo. As casas construídas para as
vítimas do terremoto, que têm
piso e cobertura especiais antitremores, foram erguidas pelo
Estado em uma área urbana de
Itacarambi (662 km de Belo
Horizonte), a 30 km da vila.
Acostumados ao campo,
muitos moradores não se adaptaram à vida no centro do município nem arrumaram emprego lá. Pelo menos seis famílias já retornaram a Caraíbas e
muitos vão diariamente ao vilarejo para trabalhar nas plantações e criar gado.
Saudade
Berenice Pereira de Azevedo,
45, e seus parentes preferem
morar em uma casa cheia de rachaduras a sair de Caraíbas.
O morador do conjunto habitacional construído em Itacarambi José Raimundo Conceição, 43, diz que o "terremoto
parou" e que pretende voltar a
viver no vilarejo, onde quer
construir "um barraco". Hoje,
conta, vai e volta para a região
rural. "Dá saudade", diz.
Mesmo longe de áreas sujeitas a fortes terremotos, como
os que ocorreram no Haiti e no
Chile neste ano, o Brasil tem regiões onde há tremores com alguma frequência.
O Observatório Sismológico
da Universidade de Brasília instalou equipamentos em Itacarambi. O último tremor anotado ocorreu em outubro, com
com intensidade de 2,5 graus. A
unidade mais próxima do Corpo de Bombeiros fica a mais de
200 km dali, em Montes Claros.
O município diz que vai providenciar a retirada dos moradores -eles prometem resistir,
no entanto.
Segundo técnicos do Observatório Sismológico, a área
apresenta riscos, mas é possível
construir casas seguras em regiões que ficam próximas a falhas geológicas.
Por ser uma comunidade rural de baixa renda, as casas erguidas no vilarejo mineiro tinham estrutura rudimentar, o
que colaborou para a tragédia
ocorrida em 2007. As novas
moradias, de acordo com o município, também não suportariam tremores mais intensos
em Caraíbas.
Para o chefe da Defesa Civil
municipal, Arnaldo Oliveira, as
famílias deveriam ter sido instaladas em um local onde "tivessem condições de sobreviver". "Eles até admitem que estão sentindo alguns tremores.
O que eles alegam é que não
têm como sustentar suas famílias aqui na cidade. Eles sobrevivem da agricultura familiar.
E, aqui onde eles foram instalados, eles não têm condições."
A Cohab (Companhia de Habitação do Estado) diz que o local para a construção das casas
foi escolhido pelo próprio município. Procurado pela reportagem, o Corpo de Bombeiros
de Minas Gerais informou que
a expansão das unidades depende de solicitação das cidades e de negociações com elas.
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