São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2001

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ABASTECIMENTO

Empresa irá recorrer ao bombardeio de nuvens para aumentar os índices de chuva e minimizar racionamento

Sabesp contrata empresa para fazer chover

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Numa tentativa de minimizar o racionamento na Grande São Paulo e evitar a sua ampliação para a capital, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) vai recorrer ao bombardeio de nuvens para aumentar os índices de chuva.
Segundo a empresa, a estiagem é a causa da falta de água, que já afeta, desde o último dia 17, 300 mil moradores da região metropolitana abastecidos pelo sistema Alto Cotia e ameaça outros 12,4 milhões servidos pelos sistemas Cantareira e Guarapiranga.
A princípio, o "alvo" dos bombardeios será apenas a região sudoeste, abastecida pelo Alto Cotia e Guarapiranga, mas não está descartada a utilização da técnica também no Cantareira, caso ela seja bem-sucedida.
O processo de bombardeio (ou nucleação de nuvens) é realizado no Paraná e em países como os EUA, África do Sul e Japão. Ele foi empregado em diversos Estados nordestinos pela Funceme (Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos), que o abandonou por considerá-lo ineficiente (leia texto nesta página).
"A Sabesp está fazendo todo o possível para amenizar o racionamento e ampliar a margem de risco do abastecimento na região metropolitana", afirma Marcelo Salles, vice-presidente metropolitano de distribuição da empresa.
Em razão da crise no fornecimento de água, o secretário de Estado dos Recursos Hídricos, Antonio Carlos de Mendes Thame, disse ontem que, dentro de aproximadamente 15 dias, deve anunciar se o racionamento será ou não ampliado.
De acordo com o secretário, o sistema Cantareira, que serve cerca de 9 milhões de pessoas na capital e na Grande São Paulo (53% da população total) e estava ontem com 38,1% de sua capacidade operacional, vive uma "situação dramática".
Para reduzir o risco de falta de água, Thame diz que a população tem de economizar e "São Pedro, colaborar". Em abril, a chuva acumulada ficou muito abaixo da média histórica nos três sistemas, e a tendência é que, a partir deste mês, as precipitações sejam cada vez menores.
Os bombardeios deverão começar em dois meses -já foi lançado um edital de licitação para o serviço. Eles custarão até R$ 165 mil à Sabesp por 75 dias de contrato, o que representa menos de 5% dos R$ 4 milhões gastos pela empresa na campanha publicitária contra o desperdício, lançada oficialmente ontem.

Semeando chuva
A técnica de nucleação é conhecida em inglês como "clouds seeding", ou "semear nuvens". Ela pode tanto aumentar a quantidade de chuva como antecipar a precipitação, impedindo que uma nuvem carregada venha a chover fora das áreas de interesse, levada pela ação do vento.
Canhões instalados no solo ou aviões fazem os disparos de sais que tenham propriedades hidratantes, ou seja, se liguem fortemente às moléculas de água.
São usados geralmente o cloreto de sódio (dissolvido em água ou queimado) e o iodeto de prata. Eles devem atingir nuvens quentes -que não tenham ainda alcançado a temperatura de congelamento da água (0).
Os sais promovem, então, uma aglutinação das gotículas presentes nas nuvens, formando gotas de diferentes tamanhos e, com isso, aumentando sua velocidade de colisão, o que provoca a chuva ou pode intensificá-la.


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