São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2004

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SEGURANÇA

Depósito foi invadido por cinco homens armados, que levaram fuzis, munição e até uma Kombi; comando foi afastado

Armas são roubadas da Aeronáutica no Rio

Felipe Varanda/Folha Imagem
Um dos portões do depósito da Aeronáutica invadido ontem; polícia suspeita de traficantes de drogas


MARIO HUGO MONKEN
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Cinco homens armados invadiram na madrugada de ontem o Depósito de Aeronáutica do Rio de Janeiro, na avenida Brasil, na altura de Bonsucesso (zona norte). Eles roubaram 22 fuzis HK-33, uma pistola Taurus 9 mm com 15 cartuchos, quatro carregadores com 40 munições cada um e uma Kombi, em que fugiram.
Desde agosto de 2002, este foi o maior roubo de armas e munição registrado em uma unidade das Forças Armadas no Rio. Foi também o terceiro neste ano em unidade da Aeronáutica no Estado.
A Polícia Militar suspeita que os invasores são traficantes da organização Amigo dos Amigos (ADA) que atuam no complexo de favelas da Maré (Bonsucesso).
Já para a Polícia Civil, as armas foram roubadas por criminosos do Terceiro Comando Puro (inimigos da ADA) do complexo do Dendê (Ilha do Governador, zona norte). A Aeronáutica não comentou o ocorrido.
A ação aconteceu à 0h25. Os invasores entraram no depósito por dois portões: o principal, na avenida Brasil, e o lateral, na avenida Bento Ribeiro Dantas.
Segundo o tenente-coronel da PM Álvaro Rodrigues Garcia, na hora da invasão, o quartel estava às escuras e os ladrões utilizaram lanternas para entrar no local. A Aeronáutica confirmou que havia um blecaute no depósito.
O grupo rendeu, sem atirar, cinco militares que faziam guarda. Três teriam sido amarrados e agredidos, segundo a PM. Em seguida, os criminosos entraram no paiol e roubaram armas e carregadores. A ação durou cerca de 15 minutos. Uma Kombi, estacionada no quartel, serviu para a fuga.
No início da manhã, a polícia recuperou a Kombi. O carro foi abandonado na av. Brasil, na altura de Realengo (zona oeste), a 30 km do Depósito de Aeronáutica.
Dentro do carro, policiais militares acharam um carregador de fuzil pintado com a sigla ADA, o que reforça a suspeita de que traficantes atacaram o paiol militar.
Segundo investigadores da Polícia Civil, na Ilha do Governador, foi encontrado um telefone celular roubado pelos invasores de um dos militares rendidos. Isso seria indício de que as armas roubadas iriam para o morro do Dendê, dominado pelo Terceiro Comando Puro, rival da ADA.

Afastamento
No fim da manhã, a Aeronáutica divulgou nota informando que todos os membros do comando do depósito foram afastados do serviço. A Aeronáutica abriu Inquérito Policial Militar para apurar os fatos e averiguar se houve conivência por parte de militares que conheçam a rotina do local.
À Folha, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica informou que o afastamento dos diretores teve o objetivo de "garantir à sociedade e à corporação" que o caso será apurado "com a maior transparência possível".
Ainda segundo a manifestação da Aeronáutica, o afastamento não significa que os integrantes do comando da unidade tenham sido considerados culpados antes da conclusão das investigações.
O inquérito, de responsabilidade da Diretoria de Material Bélico da Aeronáutica, deverá ser concluído em até 40 dias.
Na segunda nota, divulgada no início da noite, a Aeronáutica diz que "as informações existentes estão sendo tratadas com sigilo, a fim de garantir o sucesso do processo em andamento".
A Força Aérea não informou, por exemplo, se os cinco militares rendidos eram os únicos que guardavam o depósito no momento do roubo.

Investigações policiais
A Polícia Civil do Rio e a Polícia Federal investigam se, em conseqüência das operações policiais nas fronteiras e de apreensões de armamentos em favelas, os traficantes de drogas teriam decidido atacar quartéis das Forças Armadas para reforçar seus arsenais.
Mas os policiais civis e federais que investigam o narcotráfico continuam sustentando que grande parte das armas que estão com as quadrilhas de traficantes é contrabandeada do Paraguai e chega aos grandes centros, como Rio e São Paulo, pelas rodovias.
Os carregamentos entrariam no Brasil pelo Paraná (Foz do Iguaçu) ou pelo Mato Grosso do Sul (Ponta Porã), seguindo para a região Sudeste escondidos em cargas de caminhões ou em ônibus de turismo.


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