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EDUCAÇÃO
Projeto do escritor Paulo Lins prevê revitalizar bibliotecas e treinar professores para estimular a leitura entre alunos jovens
Rio adota literatura para combater tráfico
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Contra a delinquência juvenil, livros. Contra o tráfico de drogas
que atrai jovens pobres, romances, biografias, literatura, enfim.
Esse é o lema do projeto "Caravanas Urbanas", que o escritor Paulo Lins coordena na Secretaria de Cultura do Estado do Rio. A idéia
é revitalizar bibliotecas de escolas
públicas de áreas carentes, estimulando a leitura entre os alunos.
Nascido e criado na Cidade de
Deus, favela pobre e violenta da
zona oeste do Rio, Lins, 43, diz
que os livros foram fundamentais
para que escapasse à história de
marginalidade vivida por amigos
seus. "Ninguém entra para a criminalidade de uma hora para outra. O acesso ao crime é justamente na idade escolar. Muitas crianças saem do colégio e ficam na
rua, e o projeto quer combater isso usando o livro como atrativo."
O escritor conta que, quando
criança, passava o dia na escola.
Lá se apaixonou pelos livros e,
adulto, transformou em romance
as histórias dos jovens, traficantes
ou não, que conheceu na favela.
O livro "Cidade de Deus" originou um filme homônimo, dirigido por Fernando Meirelles.
Ainda em fase inicial, o "Caravanas Urbanas" começa com o
treinamento de professores da rede estadual para estimular a leitura. Depois, haverá uma campanha de doação de livros para revitalizar as bibliotecas escolares.
As bibliotecas deverão ser abertas para as comunidades também
aos sábados e domingos. Estão
previstos shows de artistas e visitas de grupos de contadores de
histórias aos bairros.
"Estamos convidando gente como Marcelo Yuka [do grupo Rappa", o rapper MV Bill, o grupo Pedro Luiz e a Parede, a poetisa
Bianca Ramoneda e o artista plástico Jorge Duarte", afirmou Lins.
Os artistas participariam, com
estudantes e professores, de oficinas de literatura e poesia. Estão
sendo firmadas também, segundo Lins, parcerias com professores, como Heloísa Buarque de
Holanda, da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro), e Rosa
Cuba Riche, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
O custo do projeto é estimado
em R$ 270 mil. Inicialmente, deverão participar escolas de cinco
comunidades: morro Santa Marta, em Botafogo (zona sul), morros da Formiga e Casa Branca, na
Tijuca (zona norte), Vigário Geral
(zona norte), Maré (zona norte) e
Nova Sepetiba (zona oeste).
Lins lembra que já existem projetos que empregam as artes no
combate à delinquência juvenil,
mas geralmente usam música,
teatro e dança. Poucos trabalham
a literatura como forma artística.
"Nossa idéia não tem a pretensão de formar escritores. Queremos começar formando leitores, pois o livro é a base das ciências e das artes, exercita a inteligência. A elite brasileira, se tivesse mais leitura, não seria tão prepotente."
A juventude pobre -a que escapa da criminalidade e a que sucumbe a ela- é tema dos dois próximos trabalhos de Lins.
Um deles, provisoriamente intitulado "A História de Dé", conta a
história de dois irmãos: um que entra para o tráfico e outro que
decide viver uma vida honesta.
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