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Shopping põe vigias para "filtrar" quem entra
Direção nega que restrições visem selecionar público e diz que tomou medidas para evitar risco de arrastões e tumultos
Jovens da periferia de Curitiba, com roupas de estilo skatista e hip hop, afirmam estar sendo alvo de discriminação no local
DIMITRI DO VALLE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
Um shopping recém-inaugurado em Curitiba decidiu colocar seus seguranças para selecionar o acesso de grupos de
duas ou mais pessoas e vetar o
uso de camisas de times de futebol, sob a justificativa de risco
de arrastões e tumultos.
O problema veio à tona após
jovens de periferia, com roupas
de estilo skatista e hip hop, afirmarem estar sendo alvo de discriminação no Palladium
Shopping Center, o maior da cidade. Com 182 mil m2 de área
construída, ele fica na zona sul
de Curitiba, a mais populosa da
cidade e que concentra favelas
e áreas de classe média baixa.
A direção nega que tenha
usado as restrições para selecionar seu público. Diz que tomou as medidas para evitar
que "bandos" com mais de 50
pessoas se reúnam no local e
causem tumulto e insegurança.
"Isso já ocorreu em outros
shoppings da cidade. Somos
agora a bola da vez", afirma
Aníbal Tacla, um dos donos.
Ele diz que o "bom senso" dos
seguranças permite diferenciar
o cliente habitual de quem está
lá para tumultuar. Segundo ele,
a direção recebeu denúncias
sobre gangues rivais que teriam trocado mensagens pela
internet para "disputar o território" do shopping.
"Somos responsáveis pela segurança das pessoas e temos
que tomar medidas, baseadas
no bom senso, para prevenir
tumultos. O shopping é eclético e não discrimina", diz.
Nos últimos finais de semana, jovens têm se reunido em
frente ao shopping para protestar contra as medidas. Alguns
levam garrafas de refrigerantes
misturados a vodca e cachaça.
Há quem afirme ter sido confundido com ladrão apenas por
usar roupas de hip hop. "O segurança fica atrás de você pelos
corredores e já pensa que [você] vai roubar. Já sofremos
muito preconceito", disse o auxiliar de produção Cleiton Cirilo, 19. Ele afirmou que estava
sozinho e não teve o acesso negado, mas se incomodou com a
atitude dos seguranças.
Zulmar Fachin, da OAB do
Paraná, classificou de "inconcebível" a determinação. "Embora seja um empreendimento
privado, o shopping é um espaço público, destinado a compras e ao lazer. Em princípio
não pode vetar. A suspeita pura
e simples de que poderia haver
a prática de um ato ilícito não é
fundamento para impedir o
acesso ou a circulação."
Para Paulo Schier, professor
de direito constitucional da
Unibrasil, de Curitiba, as restrições podem ferir princípios
como o da igualdade. "Alguns
critérios fundados nas roupas
ou no número de pessoas me
parecem discriminatórios porque não estão baseados em nenhum fundamento objetivo para dizer que o grupo pode trazer risco à segurança do público do shopping."
Colaborou JOSÉ EDUARDO RONDON, da Agência Folha
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