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Tempestade nem sempre é detectada, diz piloto
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Tempestades nem sempre
são detectadas pelos radares e
podem danificar instrumentos
de voo vitais para os pilotos.
O alerta é de Jean-Louis Richard, 57, veterano comandante de Boeing 777 da Air France.
Em 26 anos na empresa, passou
por dezenas de aeroportos e pilotou vários tipos de avião
-mas não o A330.
Em entrevista à Folha, por
telefone desde Paris, ele disse
que os pilotos franceses estão
entre os mais bem pagos.
FOLHA - O sr. já voou na área da
tragédia?
JEAN-LOUIS RICHARD - Sim. Fiz
muitas vezes o trajeto entre São
Paulo e Paris, sobrevoando Natal e Fernando de Noronha a
caminho da costa africana. Às
vezes há turbulências, mas nada de anormal.
FOLHA - Problemas meteorológicos podem derrubar um avião ultramoderno como o A330?
RICHARD - Radares alertam os
pilotos sobre tempestades no
caminho, o que nos permite
evitá-las. Mas existem fenômenos atípicos, difíceis de detectar. Também ocorrem problemas de interpretação. Os avisos
do radar nem sempre são claros. Ninguém está a salvo de
um incidente sério. Um raio,
por exemplo, pode causar a
perda do sistema eletrônico ou
dos equipamentos de rádio, o
que gera uma situação de risco.
FOLHA - O sr. já pilotou um avião
atingido por um raio?
RICHARD - Sim, três vezes, mas
não tive problemas. Apenas vi
um grande clarão e ouvi um estalo. O raio deixa na fuselagem
uma marca parecida com uma
queimadura de cigarro.
FOLHA - Como é feita a revisão de
rotina dos aviões da Air France em
aeroportos brasileiros?
RICHARD - É mais ou menos o
mesmo processo em todos os
países. Na chegada, os pilotos
apresentam a um mecânico da
empresa em solo um relatório
com todos os problemas surgidos durante o voo. Mas em escala não se pode fazer muita
coisa. Se estamos diante de um
problema menor, esperamos
até a aeronave voltar a Paris para consertá-la. Se o problema é
mais sério, o avião não decola.
FOLHA - Autoridades brasileiras
não participam da revisão?
RICHARD - Não diretamente. A
Air France tem que seguir a legislação aeroportuária do Brasil, assim como as empresas aéreas brasileiras devem seguir a
legislação francesa quando
operam em Paris. Mas as empresas são responsáveis pela
manutenção de seus aviões.
FOLHA - Como é a sua rotina de trabalho?
RICHARD - Faço em média quatro turnos por mês -um turno
é o tempo que levo entre a decolagem da França e a volta ao
país. Como faço voos muito
longos, às vezes fico 48 horas
descansando em Tóquio ou Los
Angeles antes de pilotar no trajeto de retorno. Dá uma média
de 15 ou 16 dias de trabalho por
mês. Ocasionalmente posso expressar minha preferência por
um destino. Tenho escolhido a
Ásia com mais frequência.
FOLHA - Qual o seu salário mensal?
RICHARD - Depende do mês e
das horas extras. Na média, ganho em torno de 15 mil mensais [cerca de R$ 41 mil].
FOLHA - Os pilotos da Air France
são os mais bem pagos do mundo?
RICHARD - Empresas europeias
aéreas como Air France, British
Airways e Lufthansa estão entre as que pagam melhor. Estivemos por muito tempo atrás
dos americanos, mas eles sofreram os efeitos da crise no setor.
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