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CRIME ORGANIZADO
Quadrilha composta por policiais civis e militares é suspeita da morte de 30 pessoas nos últimos dez anos
PF investiga crime grupo de extermínio no AC
RUBENS VALENTE
da Agência Folha, em Rio Branco
A Polícia Federal do Acre investiga a atuação de grupos de extermínio formados por policiais civis, militares e informantes, suspeitos de envolvimento ou participação direta no assassinato de pelo menos 30 pessoas no Estado nos
últimos dez anos.
Outros 80 homicídios não esclarecidos também estão tendo a investigação inicial reexaminada. O
trabalho da PF ganhou características de intervenção federal nas
polícias do Acre depois que crimes
bárbaros -como a amputação de
braços e pernas de um homem,
ainda vivo, com uma motosserra- foram arquivados como de
"autoria desconhecida".
Os crimes, segundo uma subcomissão criada pelo Ministério da
Justiça, têm, quase sempre, duas
marcas: "queima de arquivo" e
disputa por pontos de drogas.
A subcomissão é composta por
representantes da PF, do Ministério Público Federal e Estadual e da
Polícia Militar. De outubro de 97
até a semana passada, foram ouvidas 48 pessoas. De 12 delas, entre
policiais e políticos, a comissão
conseguiu indícios de envolvimento nos crimes. Outras 10 estão
na relação das suspeitas.
Os crimes no Acre revelaram-se
uma ação de crime organizado
quando as testemunhas, que foram depor ou estavam convocadas
para dar o depoimento na subcomissão, começaram a ser mortas.
Testemunhas assassinadas
Os casos do mecânico Sérgio Rodrigues Soares, 18, e do ex-presidiário Francisco dos Santos Rocha, o "Baia", 23, são os mais
emblemáticos dessa ação organizada. Os dois foram mortos no início e final de março. A Folha teve
acesso aos relatórios com os depoimentos dados à subcomissão
do Ministério da Justiça sobre a
eliminação das testemunhas.
O mecânico foi morto com 15 tiros na madrugada de 28 de março,
numa emboscada feita por três
homens. Soares havia dito que viu
policiais receptando drogas.
Baia", o ex-presidiário, que
cumpriu pena por tráfico de drogas, foi morto a tiros em um restaurante, no início de março, por
três homens que se identificaram
como policiais.
A ação intimidatória dos "esquadrões" atinge até mesmo o
presidente do Tribunal de Justiça
do Acre, Gercino José da Silva Filho, 50, que sofrendo ameaças de
morte e está sob proteção da PF.
Em setembro do ano passado,
outra testemunha, o policial civil
Walter José Ayala, 43, foi assassinado dentro de um ônibus no centro de Rio Branco. Morreu 15 dias
depois de ter dito ao presidente do
TJ que estava disposto a colaborar.
Um ex-informante da Polícia Civil, cujo nome está sendo mantido
em sigilo, escapou de dois atentados a bala, depois de ter prestado
depoimento, em 6 de fevereiro .
Ele denunciou o envolvimento
de policiais civis e militares em crimes como "execução e esquartejamento" de pessoas e tráfico de
drogas. Por decisão da subcomissão, o ex-informante foi transferido há uma semana para outro Estado, com toda a família.
Outra testemunha, o preso Valtemir Gonçalves, 24, o "Palito",
denunciou em 10 de maio que
mais quatro pessoas correm risco
de vida em Rio Branco. "Palito"
foi transferido para a Penitenciária da Papuda, em Brasília (DF),
O procurador da República e relator da subcomissão, Ricardo Nakahira, disse à Folha não ter certeza de que os assassinatos do mecânico e do ex-presidiário fossem
para prejudicar os trabalhos da
subcomissão. Ainda assim, dez
testemunhas foram aconselhadas
a tomar medidas de segurança.
A polícia também investiga uma
estranha coincidência: o assassinato de um hóspede de um hotel
no interior do Amazonas, no mesmo dia em que uma testemunha
dos crimes no Acre estava ali hospedada, no mês passado. A suspeita é que os criminosos tenham eliminado a pessoa errada.
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