São Paulo, quinta, 4 de junho de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice EDUCAÇÃO A rebeldia dos apáticos
GILBERTO DIMENSTEIN do Conselho Editorial As escolas públicas e privadas de São Paulo são cenário de uma revolta silenciosa -o que explica as crescentes manifestações de indisciplina, verificadas pelos professores. A insatisfação se estende também aos meios de comunicação, em especial à TV (leia texto nesta página), criticada por ter excesso de sexo, violência e pouco material educativo. O tema da disciplina ocupa cada vez mais espaço nos congressos de educação, atraindo psicólogos e psiquiatras para explicar por que aumentam os sinais de desatenção dos alunos. Pesquisa realizada com 3.206 estudantes das escolas públicas e privadas da cidade de São Paulo detectou ser unânime a percepção de que o destino profissional depende de esforço em sala de aula -ou seja, a escola é valorizada. Inicialmente a pesquisa quis avaliar os conceitos de ética entre os jovens brasileiros e acabou avaliando a relação dos estudantes com a escola. Deles, 83% querem que se "reinvente" a forma como as aulas são dadas, revelando uma insatisfação generalizada. "Indisciplina está no topo da agenda educacional", afirma o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, acostumado a ouvir as reclamações de professores atormentados com o clima em sala de aula. Reclamações e medo, já que as escolas são atingidas por vandalismo e professores sentem-se ameaçados. Professores se dizem, em muitas escolas da periferia, com medo de dar aulas, aterrorizados por alunos agressivos e rebeldes. Está em ataque o velho sistema, ainda predominante apesar dos avanços, das matérias ministradas separadamente, sem conexão, voltadas à memorização. Durante dois meses foram feitas pela CPM, especializada em levantamento de opiniões de crianças e adolescentes, não apenas pesquisas quantitativas, mas as qualitativas; formaram-se grupos de dez estudantes cada para aprofundar as entrevistas. Em primeiro lugar ficou a frase " estudar é preciso pois me prepara para a vida", com 90%. Em segundo lugar, uma surpresa, revelando a expansão das drogas nas escolas; ficou com 80% (leia texto nesta página) a idéia de que a droga nas escolas "é um problema grave". A insatisfação aparece na alta pontuação de frases como "o que é ensinado deve ser exemplificado com coisas do dia-a-dia" (79%) ou "os professores deveriam ter aula de comunicação para dar aula direito" (77%). A frase "tem matéria que eu acho que não vai servir para nada" ficou com 68%; já a afirmação "eu gostaria de pensar mais a respeito das coisas e não que viessem prontas" obteve 50%. Existe a sensação de que o ensino é muito fraco (47%). Dos entrevistados, 41% concordaram com a frase: "para mim é um esforço prestar atenção na aula ( dá sono, é devagar)". De cada 100 entrevistados, 26 concordaram com a idéia "a maioria dos professores" não se preocupa se os alunos estão aprendendo. Está em fase de desenvolvimento novo programa para reforma do chamado ensino médio, o antigo colegial. "Temos de preparar as pessoas para enfrentar desafios, resolver problemas, e não apenas memorizar informações muitas vezes inúteis", afirma Guiomar Namo de Mello, responsável pelo novo padrão curricular. A nova tendência é o que os educadores chamam de "tranvesalizar" o ensino -ou seja, pegar os temas do cotidiano como sexualidade, violência, consumo e integrá-los ao sistema tradicional. Ao mesmo tempo, torná-lo interdisciplinar, ou seja, fazendo com que cada matéria se relacione e não sejam dadas separadamente. "Quem não seguir esse caminho, perde o aluno e a credibilidade", acredita Guiomar. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
|