São Paulo, domingo, 04 de julho de 2004

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SAÚDE

Sistema de defesa do organismo elimina 80% das ocorrências do vírus em mulher sem lesão no colo do útero

Bióloga critica teste de HPV em jovens

DA REPORTAGEM LOCAL

Não fazer nada, apenas acompanhar. Parece esquisito receber uma recomendação dessas quando o diagnóstico é de infecção pelo vírus HPV. Mais difícil ainda quando se é uma mulher jovem, e muitas vezes ansiosa.
Como alguns tipos do papiloma vírus humano, o HPV, estão ligados ao aparecimento de câncer de colo uterino, a primeira coisa que algumas pacientes pensam é em remédios, cauterizações.
No entanto, segundo a bióloga Luisa Villa, pesquisadora-chefe do setor de virologia do Instituto Ludwig de Pesquisa contra o Câncer, em pacientes jovens, saudáveis, sem qualquer tipo de lesão no colo do útero, o vírus é eliminado pelo sistema de defesa, sem tratamento, em 80% dos casos.
"Anteriormente, sempre dizíamos que, uma vez infectado, isso era para sempre. Mas era porque os exames não eram sofisticados o suficiente para garantir que tinha ocorrido uma total descarga do vírus", explica Adele Benzaken, presidente da Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis.
Em razão disso, Villa critica o teste indiscriminado para o HPV nessa faixa etária. "Em mulheres jovens, só causa ansiedade."
Villa, que desde 93 participa de um estudo prospectivo sobre o vírus com 2.000 mulheres, diz que isso não significa que a mulher jovem não tenha de continuar a fazer o acompanhamento normal no ginecologista, com os exames periódicos, como o papanicolau, que detectam também sinais de outras DSTs (doenças sexualmente transmissíveis).

Indicação
Na opinião da bióloga, o exame do HPV deve ser indicado principalmente para as mulheres que têm mais de 30 anos e que registraram um papanicolau suspeito, que tenha presença de células de origem indeterminada.
Segundo Benzaken, o consenso da sociedade que preside é que, mais importante do que garantir o exame do HPV, é conseguir que todas as mulheres façam o papanicolau, capaz de detectar várias doenças, pelo menos de dois em dois anos. "No Chile as mulheres recebem cartas quando não fazem o exame."
Segundo o oncologista ginecológico Luiz Augusto Freire, do Hospital do Servidor Estadual, o tratamento tradicional do HPV, quando há lesões, por exemplo, se baseia na destruição do tecido doente (por congelamento, laser, cauterização elétrica ou ácido) e em medicamentos que melhoram o sistema de defesa.
Villa afirma que não existem estudos suficientes para comprovar a eficácia de alguns tratamentos, caso de medicamentos que fazem uma estimulação local do sistema imunológico. "Não há tratamento específico", diz.
O vírus pode se alojar tanto no colo do útero como na vagina e na vulva. Os grupos de papiloma vírus relacionados ao câncer de útero não manifestam sintomas, alerta Freire. "Quando aparecem, o câncer já está instalado."
Por isso, orienta, é fundamental a realização periódica do papanicolau e, se detectada alguma alteração, uma colposcopia com biópsia da área suspeita.
É comprovado que 99% das mulheres que têm o câncer do colo uterino foram antes infectadas pelo HPV. (FABIANE LEITE, CLÁUDIA COLLUCCI E AURELIANO BIANCARELLI)

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