São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AULA SEM DOR

Ato em SP cobra fim da vivissecção no ensino -operação de animais vivos para estudos de fenômenos fisiológicos

ONGs fazem "apitaço" na defesa de animais

Emiliano Capozoli B./Folha Imagem
Manifestantes exibem cartazes contra a operação de animais vivos para estudo de fenômenos fisiológicos com fins didáticos


ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA

No lugar de música instrumental, "apitaço". Em vez de desenhos infantis coloridos, cartazes pretos com fotos de cães dilacerados. Domingo atípico na avenida Paulista. Crianças e jovens de jalecos brancos manchados de vermelho-sangue, casais mascarados e idosos marchando com faixas em protesto contra a vivissecção no ensino, operação de animais vivos para estudo de fenômenos fisiológicos com fins didáticos.
"Dissecar animais vivos, em nome de uma suposta obtenção de conhecimentos científicos, é um procedimento justificável?", gritava, de um carro de som, Fábio Paiva, do grupo Holocausto Animal, um dos "puxadores" da passeata. Representantes de 40 ONGs nacionais e três internacionais participaram do ato, que começou às 10h, na avenida Paulista.
Às 12h30, eles seguiram pela Consolação até a Santa Casa, na rua Dona Veridiana, Vila Buarque, no centro. Cães também acompanharam seus donos. Bonecos de cachorros dilacerados tentavam sensibilizar o público. O ato, pacífico, foi acompanhado pela Polícia Militar. Para os organizadores, 600 eram os participantes -metade, calculou a PM.
Apesar de existir uma lei municipal que proíbe o envio de animais apreendidos pelo CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) às instituições de ensino, as ONGs alegam que elas se abastecem de cães oriundos de outras cidades.
"A raiz do problema é o abandono", diz a engenheira sanitarista Martha Maganha, 42. "As pessoas precisam se conscientizar que ter um animal não é o mesmo que comprar uma jaqueta de marca ou um brinquedinho. Se não houvesse tanto bicho nas ruas, não seriam mortos assim."
Em média, por ano, cerca de 20 mil animais domésticos são apreendidos pela zoonose. Só 15% deles são resgatados pelos donos e 5%, adotados. Por dia, 50 bichos são "eutanasiados".
"Nosso desafio é informar as pessoas sobre a posse responsável", diz Alessandre Martins, do setor de comunicação do CCZ, um dos organizadores do projeto "Para Viver de Bem com os Bichos", desenvolvido com professores de escolas públicas e privadas. A base do conceito, difundido há mais de 35 anos na Europa e nos EUA, defende que o dono cuide do animal, zelando pela sua boa saúde e bem-estar.
Sônia Peralli Fonseca, presidente do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, calcula que 2 milhões de animais - entre cães, gatos, coelhos, porquinhos-da-índia, camundongos- são sacrificados por ano no Estado. "A lei federal considera crime experiência dolorosa ou cruel com animais quando existirem recursos alternativos. E eles existem."
Segundo Sônia, nos EUA, mais de cem universidades aboliram o uso de animais vivos para vivissecção. "Por que insistimos em viver na época medieval?"
Médica clínica-geral e cardiologista, a professora Odete Miranda, 49, da Faculdade de Medicina do ABC, diz que os bichos devem ser substituídos por manequins, computadores e cadáveres de animais quimicamente preservados.
Os manifestantes disseram que a Santa Casa foi escolhida para terminar a manifestação de forma simbólica. "Não é nada contra a instituição", disse Júlio César Cadamuro, do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal.
A assessoria de imprensa da Santa Casa disse que a faculdade de ciências médicas utiliza o departamento técnico e cirúrgico do hospital e que apenas ela poderia se manifestar a respeito. Sua versão só seria dada hoje.


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Violência: Cravinhos se dizem usados por Suzane
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.