São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2005

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VIOLÊNCIA

Réus confessos no processo de assassinato do casal Richthofen, irmãos devem entrar com pedido de habeas corpus no STJ

Cravinhos se dizem usados por Suzane

LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos de Paula e Silva decidiram entrar com pedido no STJ (Superior Tribunal de Justiça) para aguardar o julgamento em liberdade, assim como fez a estudante Suzane von Richthofen, que deixou a prisão na última quarta-feira. Ela estava detida no Centro de Ressocialização Feminino, em Rio Claro (175 km de São Paulo).
De acordo com o pai de Daniel e Cristian, o aposentado Astrogildo Cravinhos, 60, a advogada da família, Gislaine Haddad Jabur, deve dar entrada no pedido de libertação esta semana.
Os três são réus confessos no processo sobre o assassinato dos pais de Suzane, Manfred, 49, e Marísia von Richthofen, 50, em outubro de 2002.
Eles foram denunciados à Justiça por duplo homicídio triplamente qualificado - motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima.
O pai afirmou que os filhos disseram que queriam sair da prisão para curtir um pouco de liberdade com a família. "Eles nem falaram em sair muito, ir ao cinema, disseram que querem mais tempo aqui em casa. Ficar em família", disse Astrogildo Cravinhos. Segundo ele, outro motivo que influenciou na decisão dos filhos foi o fato de poder deixar a dificuldade da vida na prisão.
Segundo ele, os filhos já estavam informados da saída de Suzane (eles tem acesso a televisão e rádio na prisão) e até comentaram que deveriam ter tido a mesma concessão automaticamente.
Eles se referiram à declaração do promotor do caso, Roberto Tardelli, que afirmou, em entrevista coletiva na última quarta-feira, que o STJ poderia ter estendido a decisão aos irmãos Cravinhos. "Não entendo por que eles não foram [beneficiados]. Não há razão processual que justifique a manutenção deles na prisão e a soltura da acusada Suzane", afirmou Tardelli.
Caso sejam soltos, os Cravinhos não devem morar em São Paulo devido ao assédio da mídia e de curiosos.

Entrevista
Em entrevista aos programas "Domingo Espetacular", da Record, e "Fantástico", da TV Globo, os irmãos Cravinhos afirmaram que "foram usados" por Suzane para praticar o crime.
Daniel contou que escreveu várias cartas à Suzane, mas ela não respondeu à nenhuma. "Eu nunca tive resposta." Mesmo assim, ficou "feliz pela liberdade dela".
Cristian afirmou na entrevista que "também quer ir para casa", ao comentar sobre a decisão judicial que revogou a prisão preventiva de Suzane.
A advogada Luzia Helena Sanches, que acompanhou Suzane na saída da prisão, disse que a jovem está decidida a nunca mais ter contato com Daniel Cravinhos.
"Ela é uma menina de personalidade bastante influenciável. Jamais praticaria um crime desses sozinha, sem a influência de ninguém. Ela está arrependida e sente saudades dos pais", disse.

Mesma comida
Sanches conta que Suzane, quando estava presa em Rio Claro, trabalhava na enfermaria diariamente, das 7h às 11h e das 13h às 16h, e também participava das missas. Ela comia a mesma comida das demais presas.
Para Sanches, Suzane "caiu em mãos erradas" ao se envolver com Daniel. Segundo a advogada, desde que saiu da prisão, a estudante está morando com parentes no interior de São Paulo.
O STJ autorizou a libertação de Suzane por ter considerado insuficientes as razões apontadas nas decisões que determinaram que ela ficasse presa até o julgamento, que ainda não tem data marcada.
Ela estava presa, segundo decisão da Justiça paulista, para facilitar as investigações, garantir a ordem pública e assegurar sua integridade física. Essas alegações foram contestadas pela defesa.
A legislação, porém, autoriza manter o réu preso até o julgamento em situações excepcionais -risco comprovado de o acusado coagir testemunhas ou fugir do país, por exemplo.
O debate no STJ ficou restrito a questões processuais, como a legalidade das prisões provisórias por longo período, antes do julgamento. Não foi levado em conta, por exemplo, o fato de os acusados terem confessado o crime.


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