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Filha de ex-preso político vira delegada
Filha de Luiz Travassos, Bárbara hoje controla Delegacia da Mulher
Por causa do histórico do pai, ela chegou a pensar que não seria aprovada no concurso para o posto na polícia
ROBERTO KAZ
DE SÃO PAULO
Quando chegou à última
entrevista do concurso para
delegada, a advogada Bárbara Travassos tinha certeza de
que seria rejeitada. "Não por
algo que eu tivesse feito, mas
pelo histórico do meu pai."
A preocupação tinha base.
Seu pai, Luiz Travassos, fora
presidente da UNE (União
Nacional dos Estudantes),
organizara a Passeata dos
Cem Mil e acabara na cadeia,
acusado de terrorismo -tudo durante os Anos de Chumbo da Ditadura.
Para piorar, ainda fora um
dos presos políticos trocados
pelo embaixador americano,
no notório sequestro ocorrido no Rio de Janeiro em 1969.
Mesmo com um currículo
familiar tão à margem do
protocolo, Bárbara passou. O
ano era 2006.
A moça, pequena, magra,
loira e mignon, trocou então
o passado de aluna do Colégio Equipe ("Onde estudaram a Céu, o Arnaldo Antunes e a Mônica Salmaso") pelo cotidiano cru da 1ª Distrito
Policial de Diadema.
Nos primeiros seis meses,
viu 14 cadáveres. "Teve um
momento que passei a nem
lembrar mais do rosto deles."
No exercício da Lei, Bárbara percebeu que, via de regra,
a maior parte dos detentos
não tem pai. "Nas poucas vezes em que iam mãe e pai à
delegacia, o sujeito não costumava reincidir no crime."
Ela explica sua tese com
uma frase de efeito: "A polícia é a Lei; a Lei é o pai; e falta
pai na nossa sociedade."
Em dezembro de 2009,
Bárbara foi transferida para a
Delegacia da Mulher, também em Diadema. "A rotina é
mais leve do que em uma delegacia normal, mas a mulher, quando reclama, não é
a primeira vez. Às vezes, vem
de 20 anos de agressão."
Bárbara ingressou na área
de segurança um pouco ao
acaso. Após trabalhar no Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor, prestou concurso para a Defensoria e para o Ministério Público.
Como não passou, sobrou-lhe a possibilidade de tentar
ser delegada. Hoje, aos 35
anos, ela ganha R$ 4 mil líquidos por mês, e mora com
a mãe no bairro de Perdizes,
em São Paulo.
Bárbara guarda poucas
lembranças do pai, que faleceu em um acidente de carro
em 1982, quando ela tinha 7
anos. Na ocasião estava presente o atual candidato do PT
ao governo de São Paulo,
Aloizio Mercadante, que virou uma espécie de padrinho
sentimental da menina.
Antes do incidente, ainda
na época da Ditadura, Luiz
Travassos morou no México,
em Cuba, no Chile e na Alemanha, sempre como exilado. "Meu pai era procurado,
taxado como terrorista, mas
nunca pegou em armas."
Coube à filha -ainda que
do outro lado da Lei- ocupar
o ofício bélico.
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