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São Paulo enfrenta superlotação em abrigos para cães
Com veto a sacrifícios por lei de 2008, prefeituras ficam com canis lotados e param de retirar animais das ruas
ONGs que apoiaram o fim das mortes dizem que faltam castrações, campanhas educativas e feiras para adoção
RICARDO WESTIN
DE SÃO PAULO
Não cabe nem mais uma
pulga. Por São Paulo afora,
na capital e nas cidades do
interior, os abrigos de prefeituras e ONGs para cães abandonados estão abarrotados.
O problema começou dois
anos atrás, quando uma inovadora lei estadual proibiu
as prefeituras de sacrificarem os cachorros capturados
pelas carrocinhas.
No começo, os defensores
dos animais vibraram com o
fim da matança. Logo, entretanto, deram-se conta de um
grave efeito colateral.
Impedidas de matar os cachorros de rua, as prefeituras
ficaram com seus canis
cheios e simplesmente pararam de recolhê-los. Os bichos
proliferaram pelas cidades.
Com isso, as entidades de
defesa animal passaram a
resgatar muito mais cães
abandonados, atropelados e
maltratados que até então.
CÃES NO TELHADO
A Associação Protetora
dos Animais de Sorocaba,
por exemplo, que nunca
abrigou mais de 80 cães e gatos, hoje tem 210.
Na zona sul de São Paulo,
o Quintal de São Francisco
está prestes a fechar as portas porque o dinheiro doado
não acompanhou o crescimento dos cachorros e as dívidas ficaram insustentáveis.
Na ONG Ajudanimal, de
Ribeirão Pires, é mais comum ver cães nos telhados
do que dentro das casinhas
de madeira. Só assim podem
respirar um pouco de ar fresco, um andar acima da aglomeração de patas e focinhos.
A entidade tem capacidade para cem cachorros, mas
abriga o dobro.
"Os animais ficam estressados e brigam por qualquer
coisinha", explica a diretora
Maria Cecília Bentini, por telefone, com incansáveis latidos ao fundo.
No final, a conta nesses locais não fecha: o número de
cães que chegam é sempre
maior que o número de cães
que saem por meio de feiras
de adoção.
LEI DESCUMPRIDA
A superpopulação de cães
de rua é agravada porque as
prefeituras, na avaliação das
ONGs, não estão cumprindo
integralmente a lei de 2008.
Olharam só o artigo que
bane o sacrifício e ignoraram
os que determinam castrações (para impedir a reprodução dos cães de rua), campanhas educativas (para evitar que famílias os abandonem) e feiras de adoção (para
esvaziar canis municipais).
"Parar de matar foi um
avanço. Porém, se a reprodução e o abandono continuam, a população mantém
o crescimento e vira uma coisa insana", afirma Beatriz
Schuler, do Instituto Vidadigna, de Bauru.
Para Vanice Orlandi, presidente da Uipa (União Internacional Protetora dos Animais), as prefeituras "têm
um profundo descaso pela
vida do animal": "É aquela
visão ultrapassada de que
eles não passam de receptáculos de doenças."
A lei paulista prevê multas
para as prefeituras que a desrespeitarem. No entanto, são
de difícil aplicação porque a
norma não estipula metas
concretas para castrações,
campanhas educativas e
adoções.
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