São Paulo, domingo, 04 de julho de 2010

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São Paulo enfrenta superlotação em abrigos para cães

Com veto a sacrifícios por lei de 2008, prefeituras ficam com canis lotados e param de retirar animais das ruas

ONGs que apoiaram o fim das mortes dizem que faltam castrações, campanhas educativas e feiras para adoção

RICARDO WESTIN
DE SÃO PAULO

Não cabe nem mais uma pulga. Por São Paulo afora, na capital e nas cidades do interior, os abrigos de prefeituras e ONGs para cães abandonados estão abarrotados.
O problema começou dois anos atrás, quando uma inovadora lei estadual proibiu as prefeituras de sacrificarem os cachorros capturados pelas carrocinhas.
No começo, os defensores dos animais vibraram com o fim da matança. Logo, entretanto, deram-se conta de um grave efeito colateral.
Impedidas de matar os cachorros de rua, as prefeituras ficaram com seus canis cheios e simplesmente pararam de recolhê-los. Os bichos proliferaram pelas cidades.
Com isso, as entidades de defesa animal passaram a resgatar muito mais cães abandonados, atropelados e maltratados que até então.

CÃES NO TELHADO
A Associação Protetora dos Animais de Sorocaba, por exemplo, que nunca abrigou mais de 80 cães e gatos, hoje tem 210.
Na zona sul de São Paulo, o Quintal de São Francisco está prestes a fechar as portas porque o dinheiro doado não acompanhou o crescimento dos cachorros e as dívidas ficaram insustentáveis.
Na ONG Ajudanimal, de Ribeirão Pires, é mais comum ver cães nos telhados do que dentro das casinhas de madeira. Só assim podem respirar um pouco de ar fresco, um andar acima da aglomeração de patas e focinhos.
A entidade tem capacidade para cem cachorros, mas abriga o dobro.
"Os animais ficam estressados e brigam por qualquer coisinha", explica a diretora Maria Cecília Bentini, por telefone, com incansáveis latidos ao fundo.
No final, a conta nesses locais não fecha: o número de cães que chegam é sempre maior que o número de cães que saem por meio de feiras de adoção.

LEI DESCUMPRIDA
A superpopulação de cães de rua é agravada porque as prefeituras, na avaliação das ONGs, não estão cumprindo integralmente a lei de 2008.
Olharam só o artigo que bane o sacrifício e ignoraram os que determinam castrações (para impedir a reprodução dos cães de rua), campanhas educativas (para evitar que famílias os abandonem) e feiras de adoção (para esvaziar canis municipais).
"Parar de matar foi um avanço. Porém, se a reprodução e o abandono continuam, a população mantém o crescimento e vira uma coisa insana", afirma Beatriz Schuler, do Instituto Vidadigna, de Bauru.
Para Vanice Orlandi, presidente da Uipa (União Internacional Protetora dos Animais), as prefeituras "têm um profundo descaso pela vida do animal": "É aquela visão ultrapassada de que eles não passam de receptáculos de doenças."
A lei paulista prevê multas para as prefeituras que a desrespeitarem. No entanto, são de difícil aplicação porque a norma não estipula metas concretas para castrações, campanhas educativas e adoções.


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