São Paulo, domingo, 04 de julho de 2010

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Atingidos abrigam outras vítimas da cheia

DO ENVIADO ESPECIAL A UNIÃO DOS PALMARES (AL)

A marca da enchente encostada no teto da casa e os lençóis pendurados no lugar da parede arrancada pelas águas, não são as únicas lembranças que a família de Maria do Socorro da Silva, 46, guarda da tragédia que atingiu União dos Palmares, em Alagoas, há 16 dias.
Maria diz que se lembra principalmente da solidariedade dos amigos, que a levou a resgatar uma família de um chiqueiro e a transformar sua garagem em um abrigo para as vítimas da cheia.
"As pessoas fizeram um mutirão para me ajudar quando a água invadiu a minha casa. Então, era importante que eu retribuísse depois."
O problema, disse, era como fazer isso. Com mais sete parentes em casa, não havia como ceder espaço aos flagelados na sala ou nos dois quartos da moradia.
A solução foi usar a garagem. Três famílias foram alojadas no local, entre elas a do aposentado José Maria da Silva, 64. A casa dele foi destruída pela chuva e, por três dias, José viveu com a mulher e dois filhos em um chiqueiro.
"Não tinha mais onde ficar, e o chiqueiro foi o único lugar que eu encontrei. A gente dormia no chão puro. Era muito fraco mesmo, muito ruim. Tinha vento e era tudo molhado", conta.
O chiqueiro, disse Maria, ficava próximo à sua casa, em uma área um pouco mais alta em relação ao nível do rio. "Quando eu e o meu marido vimos o Zé naquela situação, não tivemos dúvida: botamos todos no fusquinha e trouxemos para cá."
Na garagem, de 35 m2, eles dividiram espaço com as outras duas famílias. Também dormiam em colchonetes colocados no chão, mas já não havia vento nem a água escorria em sua direção.
Na semana passada, já em melhor situação, uma das famílias abrigadas por Maria se mudou para a casa de parentes. Quase todos os que ficaram começaram a trabalhar, também ajudando outras vítimas da cheia.
José, machucado na perna direita, ainda não tem como desocupar a garagem. Ele passa os dias sentado na calçada, imaginando como retomar a vida normal.
"Fico pensando como vai ser daqui para a frente", diz ele. Maria afirma que não tem pressa. Para ela, a garagem transformada em abrigo "pode virar um lar".
(FÁBIO GUIBU)


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