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Atingidos abrigam outras vítimas da cheia
DO ENVIADO ESPECIAL A UNIÃO DOS
PALMARES (AL)
A marca da enchente encostada no teto da casa e os
lençóis pendurados no lugar
da parede arrancada pelas
águas, não são as únicas
lembranças que a família de
Maria do Socorro da Silva,
46, guarda da tragédia que
atingiu União dos Palmares,
em Alagoas, há 16 dias.
Maria diz que se lembra
principalmente da solidariedade dos amigos, que a levou
a resgatar uma família de um
chiqueiro e a transformar sua
garagem em um abrigo para
as vítimas da cheia.
"As pessoas fizeram um
mutirão para me ajudar
quando a água invadiu a minha casa. Então, era importante que eu retribuísse
depois."
O problema, disse, era como fazer isso. Com mais sete
parentes em casa, não havia
como ceder espaço aos flagelados na sala ou nos dois
quartos da moradia.
A solução foi usar a garagem. Três famílias foram alojadas no local, entre elas a do
aposentado José Maria da Silva, 64. A casa dele foi destruída pela chuva e, por três dias,
José viveu com a mulher e
dois filhos em um chiqueiro.
"Não tinha mais onde ficar, e o chiqueiro foi o único
lugar que eu encontrei. A
gente dormia no chão puro.
Era muito fraco mesmo, muito ruim. Tinha vento e era tudo molhado", conta.
O chiqueiro, disse Maria,
ficava próximo à sua casa,
em uma área um pouco mais
alta em relação ao nível do
rio. "Quando eu e o meu marido vimos o Zé naquela situação, não tivemos dúvida:
botamos todos no fusquinha
e trouxemos para cá."
Na garagem, de 35 m2, eles
dividiram espaço com as outras duas famílias. Também
dormiam em colchonetes colocados no chão, mas já não
havia vento nem a água escorria em sua direção.
Na semana passada, já em
melhor situação, uma das famílias abrigadas por Maria se
mudou para a casa de parentes. Quase todos os que ficaram começaram a trabalhar,
também ajudando outras vítimas da cheia.
José, machucado na perna
direita, ainda não tem como
desocupar a garagem. Ele
passa os dias sentado na calçada, imaginando como retomar a vida normal.
"Fico pensando como vai
ser daqui para a frente", diz
ele. Maria afirma que não
tem pressa. Para ela, a garagem transformada em abrigo
"pode virar um lar".
(FÁBIO GUIBU)
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